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    Com política transformada em reality show, Emmy politiza suas indicações

    LUCIANA COELHO
    COLUNISTA DA FOLHA

    14/07/2017 19h06

    Já que a política tem funcionado como entretenimento da pior espécie, parece natural que o entretenimento se transforme em resposta mais político, e eis a edição 2017 do prêmio Emmy –que contempla os melhores da TV americana– para dar prova disso.

    Anunciadas na quinta (13), 7 séries concorrem a drama e, destas, 4 abordam o poder.

    "The Crown" (Netflix), sobre Elizabeth 2ª, e "House of Cards" (idem), que acompanha a trajetória do deputado fictício Frank Underwood até a Casa Branca, o fazem abertamente; a magistral "The Handmaid's Tale" (Hulu) deveria vir com dedicatória feminista ao governo Donald Trump, embora o texto original seja de 1985; e a campeã de indicações "Westworld" (HBO) é mais uma alegoria da opressão das minorias.

    A fantasia oitentista "Stranger Things" (Netflix) e a niilista "Better Call Saul" (AMC/Netflix) também são produtos de tempos obscuros; sobra a sensível "This Is Us" –única exibida nos EUA por rede de TV aberta, o que já diz muito– como exemplar revisitado do drama familiar.

    Das comédias, três focam minorias: a perspicaz "Atlanta" (FX), a hilária "Black-ish" (ABC) e a doce "Master of None" (Netflix); uma quarta traz um grupo tresloucado de párias ("Ubreakable Kimmy Schmidt", Netflix).

    A Casa Branca de "Veep" (HBO) parece menos nonsense perto da de Trump; a inescapável "Modern Family" (ABC) normaliza o casamento gay (um ponto em que o presidente americano é reticenter); e "Sillicon Valey", embora de forma afável, trata de um ator político hoje crucial nos EUA, o Vale do Silício e seu hiperativo lobby.

    É uma lista feliz, com dose de renovação incomum no principal prêmio da televisão.

    Há esquecidos, porque nem categorias extensas e afagos às produtoras podem contemplar as mais de 400 séries, mas pode-se dizer que o Emmy desta vez fez jus à vitalidade com que uma arte até pouco tida como menor tem se transformado.

    A categoria das minisséries e séries-antologia (cujas temporadas são independentes) continua a captar o que de melhor foi produzido.

    Há a sublime "Big Little Lies" (HBO), que trata de competitividade e sororidade; a deliciosa "Feud" (FX/Fox), sobre uma outra era de ouro; a soturna "The Night Of" (HBO), sobre os tropeços da Justiça; a surpreendente "Fargo" (FX) e sua coleção de desajustados, e "Genius" (NatGeo), para nos lembrar que os EUA tão bem acolheram um refugiado que mudou o mundo, Albert Einstein.

    A disputa mais difícil será entre as atrizes de minissérie, com todas do elenco de "Big Little Lies" e "Feud" (espere discursos incisivos na noite da entrega, em setembro).

    O elenco feminino do longevo "Saturday Night Live" (NBC), em temporada excepcionalmente contundente, também foi aplaudido com a indicação de três atrizes.

    As regras deixaram de fora o fenômeno "Game of Thrones" (HBO), cuja estreia ultrapassou o cronograma, mas não havia razão para excluir "The Americans" (FX), uma série sobre a Guerra Fria que de repente ficou atualíssima.

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