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    Indústria do entretenimento resgata visão 'sem filtro' da vida nos anos 1990

    PEDRO DINIZ
    COLUNISTA DA FOLHA

    18/07/2017 02h00

    Divulgação
    A banda americana Hanson, que faz shows no Brasil, fez sucesso com o single 'MMMBop', hit de 1997
    A banda americana Hanson, que faz shows no Brasil, fez sucesso com o single 'MMMBop', hit de 1997

    O relógio da cultura pop retrocedeu quase 30 anos e a indústria do entretenimento deve deixá-lo assim até pelo menos o próximo ano. No auge de um revival, anúncios de relançamentos e "remakes" tomaram moda, música, cinema, televisão e tecnologia para reconstruir o que havia de melhor (a depender dos olhos de quem vê) nos 1990, anos dourados dos trintões.

    Do "baú da vergonha", a moda tirou a pochete, reeditada por Louis Vuitton, Valentino, Chanel, Emporio Armani e outras grifes de luxo; também tirou a "choker", gargantilha que imita tatuagem; e, mais recentemente, os elásticos de cabelo tipo "xuxinha", os "scrunchies".

    Grife seminal do estilo despretensioso e "limpo" dos 1990, a Calvin Klein recuperou sua trajetória em novas campanhas sem retoques, que não lembram em nada o momento photoshop da primeira década dos anos 2000.

    "Chegamos ao limite da realidade em alta definição. O mundo em HD perturba as pessoas e é natural que elas respondam a isso com movimento oposto. A estética pré-digital é o grande norte", diz a diretora do birô de tendências PeclersParis, Iza Dezon.

    Faz sentido, então, que um dos maiores sucessos do mercado eletrônico neste ano tenha sido o relançamento, em fevereiro, do Nokia 3310, o "tijolão" do jogo da cobrinha.

    A empresa finlandesa tingiu o saudoso celular com cores básicas, manteve configurações "esqueça WhatsApp, internet e Instagram" e fez o "gadget" sumir das prateleiras em poucas semanas.

    Não há previsão de venda do aparelho no mercado nacional, mas os fãs já comemoram a vinda de outro gigante dos 1990, o Megadrive. O videogame do simpático ouriço Sonic foi relançado pela Tectoy por R$ 426,55 –à época, chegava a custar o equivalente a R$ 2.600 hoje. Tudo por uma vida simples e em 16 bits.

    "Escolha viver", "escolha seus amigos", dizia o cartaz do filme "Trainspotting" (1996), de Danny Boyle. Os mantras do personagem Mark Renton (Ewan McGregor) parecem estar no centro do revival, que o trouxe de volta à vida. "T2 Trainspotting" foi relançado neste ano e obteve nas bilheterias quase US$ 40 milhões (R$ 120 milhões).

    "Passamos por um retorno da vida sem requintes, sem filtros. A impressão para as pessoas é que os anos 1990 foram pacíficos, que o mundo não estava acabando. A década recupera confiança e otimismo. É quase uma versão infantil da vida, um 'lado regressivo'", afirma Iza Dezon.

    REGRESSO

    Tão infantil quanto é a continuação de "Um Maluco no Pedaço", série que consagrou o ator Will Smith e é tida como certa para estrear na TV em 2018. Faria sentido.

    Segundo a diretora do birô Tendere, Patricia Sant'Anna, a rearticulação dos anos 1990 passa por um resgate da ingenuidade perdida após os 2000, "quando jovens perceberam que o novo século não traria as maravilhas prometidas em "2001 - Uma Odisséia no Espaço", filme de Stanley Kubrick lançado em 1968.

    "Os jovens daquele tempo foram os últimos rebeldes do século 20. Ser 'cool' era criticar e ter uma visão mais livre sobre a vida", diz Sant'Anna.

    Nesse jogo de memória dos tempos "sem preocupações", coube resgatar a música pop com verniz adolescente.

    A boyband Backstreet Boys entrou em estúdio para gravar novo álbum, Mel C, a "Sporty Spice" do grupo Spice Girls, deu as caras em especial do "Multishow", e o trio americano Hanson voltou aos palcos para relembrar hits da carreira –eles tocam no Brasil em agosto.

    À Folha, por telefone, Taylor Hanson, 34, relembra com saudosismo a música pop, "quando a indústria da música e as rádios eram diversas".

    "Havia mais brilho naquele tempo. É claro que hoje é muito mais fácil para uma banda se mostrar 'on-demand', mas ao mesmo tempo muitas estão dentro de uma bolha. Lançam apenas uma música."

    E conclui: "a nova geração [de músicos] parece se esquecer do ambiente ao vivo, do sentido real de se arriscar na frente do público".

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