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    ANÁLISE

    Se mantiver fôlego, série de livros de André Penteado será referência

    DAIGO OLIVA
    EDITOR-ADJUNTO DE IMAGEM

    23/07/2017 02h05

    André Penteado
    Uma das imagens da série Missão Francesa, de André Penteado
    Uma das imagens da série 'Missão Francesa', de André Penteado

    Se André Penteado mantiver o mesmo fôlego dos fotolivros "Cabanagem" e "Missão Francesa" –primeiros volumes da pentalogia do paulistano, batizada de "Rastros, Traços e Vestígios"–, certamente o projeto se tornará referência na fotografia do país.

    Embora importantes artistas tenham se debruçado sobre temas imprescindíveis para entender o Brasil, em geral o fazem com foco em questões pontuais. Claudia Andujar, por exemplo, é símbolo do registro da questão indígena. Mario Cravo Neto, outro influente nome nacional, fotografou com rara intensidade os ritos afro-brasileiros.

    Penteado é mais abrangente. Parte de revoltas emblemáticas para investigar os elementos que formaram a identidade brasileira e que repercutem até hoje: violência, burocracia, religião e a sensação permanente de improvisação.

    "Missão Francesa" é uma etapa crucial dessa série. Retorna ao projeto da escola de Belas Artes, no Rio, para escancarar a vala entre o idealizado e o realizado no Brasil.

    Para isso, o fotógrafo utiliza uma abordagem seca, detetivesca, sem romantismo, em que reproduz documentos, esculturas e detalhes de quadros, alguns deles editados ao lado de retratos de descendentes do pintor Nicolas Antoine Taunay (1755-1830).

    O artista, que veio ao Brasil com a Missão Francesa, retornou ao seu país após se desiludir com o projeto da escola de Belas Artes na prática.

    Nota-se ainda uma crítica à ideia de que, para algo dar certo no Brasil, é preciso importar modelos estrangeiros.

    Por isso, é irônico que Penteado utilize estética próxima à de Wolfgang Tillmans.

    Assim como o artista alemão, o brasileiro constrói jogos de imagens que podem ser desvendados caso o leitor dedique tempo a essa obra aparentemente hermética.

    O quebra-cabeça deve ser completado com a publicação dos títulos sobre a Farroupilha e o descobrimento e a independência do Brasil.

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