• Ilustrada

    Tuesday, 30-Apr-2024 10:39:35 -03

    CRÍTICA

    Obra sobre fim de relacionamento disseca intimidade e amor

    ANA RIBEIRO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    22/07/2017 02h00

    Greg Salibian/Folhapress
    A escritora Milly Lacombe, autora de 'O Ano em que Morri em Nova York
    A escritora Milly Lacombe, autora de 'O Ano em que Morri em Nova York'

    O ANO EM QUE MORRI EM NOVA YORK (bom)
    AUTORA Milly Lacombe
    EDITORA Planeta
    QUANTO R$ 36,90 (320 págs.)

    *

    O que se desfaz quando uma história de amor acaba? No fim do casamento de dez anos com Tereza, Milly Lacombe perdeu mais do que o pacto de casal que havia entre elas. Perdeu a si mesma.

    Já fazia muito tempo que a jornalista usava os olhos apaixonados das companheiras para encontrar a própria imagem. Ela é uma mulher de grandes amores (femininos), de longos casamentos e relacionamentos que não terminam, apenas se transformam em amizades eternas –traçado comum para as histórias de amor no mundo lésbico.

    O fim do relacionamento de dez anos quebrou o espelho em que se acostumara a enxergar o seu próprio reflexo.

    Não estou aqui cometendo nenhuma indiscrição. Faz 15 anos que as dores e amores da jornalista Milly Lacombe têm sido a matéria-prima de suas colunas nas revistas "Trip" e "TPM". No livro "O Ano em que Morri em Nova York", ela retoma vários desses relatos e chega à tal da morte do título.

    Ao deixar para trás o casamento em Nova York, perde de uma tacada só a cidade para a qual tinha se mudado como projeto de vida do casal, a casa que dividia com a mulher, o meio de vida possível pela combinação de tarefas e despesas, e por fim a identidade.

    Ficar sem amor é também uma tomada de consciência de que só se reconhece como a metade de um casal. E mais: que sozinha não se sente pessoa inteira. Chega ao Brasil vazia e parte em busca da outra metade que a completaria. E que, claro, estava dentro dela.

    A viagem de autoconhecimento começa com um retiro xamânico na Amazônia, onde passa duas semanas. Depois se exila em uma temporada solitária em Gonçalves, no sul de Minas. Lá vive uma experiência sofrida e transformadora ao tomar ayahuasca.

    O Ano Em Que Morri Em Nova York
    Milly Lacombe
    l
    Comprar

    "As respostas estão dentro. Todas. Os universos estão dentro. As dimensões estão dentro. A viagem é interna", descobre, nesse mergulho interior.

    Quase tudo no livro é verdade, às vezes disfarçada pela mudança de nomes e uma ou outra interpretação livre da realidade. Milly escreve de forma envolvente –uma saída interessante da edição é a história ir e voltar no tempo. Enquanto em um capítulo ainda se questiona se foi traída, no próximo está suando em uma "sauna" coletiva na selva. A leitura avança rapidamente.

    Às vezes o leitor para para pensar por que a tristeza provocada por uma situação tão pessoal deveria ser interessante para toda uma categoria de leitores. Posso falar por mim: conheço a autora e as pessoas citadas no livro. Mas o fato é que Milly tem seu público, e questões íntimas são grande parte de seu assunto. Talvez por ela falar do amor lésbico como ele deve ser tratado: como o amor, essa questão universal.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024