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    CRÍTICA

    Record faz 'Game of Thrones' para crianças em 'Belaventura'

    TONY GOES
    COLUNISTA DO F5

    25/07/2017 21h43

    BELAVENTURA (regular)
    QUANDO de segunda a sexta, às 19h45, na Record

    *

    A Idade Média está na moda na TV. Culpa do sucesso estrondoso de "Game of Thrones" (HBO), que inspirou séries como "Vikings" (History/Netflix) e "Medici" (Fox Premium). Todas ambientadas naquele período histórico, ou numa variante fictícia dele.

    A onda finalmente chegou ao Brasil. Ou melhor, voltou: o gênero capa-e-espada era comum nos primórdios da nossa teledramaturgia, em folhetins desvairados assinados pela cubana Glória Magadan.

    Mais tarde, em 1989 –quando as tramas contemporâneas já dominavam–, o estilo foi virado de ponta-cabeça por "Que Rei Sou Eu?" (Globo).

    A obra-prima de Cassiano Gabus Mendes se passava no reino imaginário de Avilan, mas transbordava referências à política brasileira de então.

    "Belaventura" (Record) não chega a tanto. A novela de Gustavo Reiz (de "Escrava-Mãe", na mesma emissora) estreou nesta terça (25) na faixa das 19h30, e só não é um conto de fadas porque não tem magia, muito menos dragões.

    Mas tem "casas", como em "Game of Thrones": famílias rivais que disputam o mesmo trono. O primeiro capítulo ainda mostrou a morte por envenenamento da duquesa Vitoriana (Juliana Knust), em circunstâncias quase idênticas ao assassinato do malvado reizinho Joffrey de "GoT".

    Não foi a única cena violenta. Por outro lado, também houve momentos transplantados diretamente de desenhos da Disney. Como a apresentação da mocinha Pietra ainda criança, saltitando contente enquanto colhia flores. Só faltaram passarinhos virem cantar com ela.

    "Belaventura" apresenta alguns problemas recorrentes às produções da Record. Os atores, por exemplo, estão para lá de irregulares. O elenco infantil e o veterano Kadu Moliterno (que faz o rei Otoniel) chegam a ser constrangedores.

    A direção de arte, ainda que visivelmente esmerada, também continua aquém do padrão da Globo. Cenários e figurinos misturam referências de várias épocas, sem, contudo, chegar a uma linguagem própria.

    E nada é mais bizarro que os "mestres da Ordem", sacerdotes que parecem ter errado o caminho para alguma novela bíblica. É notória a preocupação da Record em evitar qualquer coisa que lembre a Igreja Católica em sua dramaturgia, mas aqui a solução encontrada beira o ridículo.

    De qualquer forma, é perda de tempo cobrar precisão histórica de "Belaventura" (algo que nem a global "Novo Mundo" tem, apesar de melhor elaborada). A primeira trama não religiosa da Record em mais de um ano se propõe apenas a ser um entretenimento convencional, para ser consumido em família.

    Talvez falte um pouco de humor –presente apenas no bobo da corte Corinto (Eri Johnson).

    "Belaventura" já tem cerca de dois terços de seus 150 capítulos gravados. Uma estratégia arriscada da Record, ainda mais quando se sabe que a próxima novela da faixa das 19h da Globo –provisoriamente chamada de "Deus Salve o Rei"– também tem temática medieval.

    Aí, sim, veremos uma autêntica justa medieval entre duas das grandes "casas" da televisão brasileira.

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