• Ilustrada

    Friday, 03-May-2024 15:21:18 -03

    Flip

    'O Rio de Janeiro está na vanguarda do atraso', diz Sérgio Rodrigues na Flip

    MAURICIO MEIRELES
    ENVIADO ESPECIAL A PARATY

    27/07/2017 12h21

    Marcus Leoni/Folhapress
    Sérgio Rodrigues, em palestra na Casa Folha, na Flip 2017
    Sérgio Rodrigues, em palestra na Casa Folha, na Flip 2017

    O encontro entre o escritor Sérgio Rodrigues e a roteirista Mariliz Pereira Jorge, na manhã desta quinta-feira (27), na Casa Folha, na Flip foi marcado por críticas à situação política do Rio de Janeiro.

    Com mediação de Sérgio Dávila, editor-executivo do jornal, os dois colunistas da Folha falaram para uma plateia lotada.

    Assista ao vídeo

    "O Rio de Janeiro está na vanguarda do atraso", disse Rodrigues em resposta a um pedido do mediador para que explicasse a situação do Estado.

    Para o autor de "Viva a Língua Brasileira" (Companhia das Letras), o Rio vive um momento de "esgarçamento" de suas relações sociais –e a desigualdade passou a se manifestar de forma mais aguda.

    "Não é muito diferente do que é o Brasil inteiro. Talvez esteja só uns anos na frente", afirmou, acrescentando que o momentodo estado serve de alerta para o resto do país.

    Para o escritor, tais problemas são fruto de uma sociedade escravagista que se acostumou à desigualdade.

    Já a roteirista lembrou uma coluna que escreveu, intitulada "A Vida é Muito Curta para Morar no Rio". O texto era uma crítica à classe média alta que mora na zona sul da capital fluminense.

    "Minha crítica era a quem olha a paisagem maravilhosa e se esquece de todos os defeitos, a quem esquecia a quantidade de gente que morre nos morros", disse ela.

    COMO ESCREVER BEM

    Como Escrever Bem
    William Zinsser
    l
    Comprar

    O Rio não foi o único assunto do debate entre os dois, que se reuniram para discutir o livro "Como Escrever Bem", manual de escrita de William Zinsser, lançado pela Três Estrelas, selo editorial do Grupo Folha.

    Rodrigues recomendou que se cultive a aversão ao clichê na hora da escrita.

    "Todo texto tem uma pulsão de morte, que é a pulsão do clichê, do que já foi dito milhões de vezes", afirmou. "Existe uma medida de originalidade e espanto que tem que ser buscada em todo texto."

    Pereira Jorge, por sua vez, acredita que para escrever é preciso coragem – e não pensar muito no público alvo.

    "Acho que a gente consegue ser mais sincero e honesto quando fala para si mesmo", disse ela.

    A discussão, em dado momento, caminhou para a dificuldade de muitos leitores em compreenderem o uso da ironia —para a importância da educação para formar pessoas que saibam ler.

    "Acho que esse é nosso problema mais profundo, de onde deveria partir uma solução, que não está no horizonte", afirmou o autor, lembrando apenas que é possível usar os lugares-comuns subvertendo-os, como faz o escritor André Sant'Anna.

    Como costuma falar algumas vezes, Rodrigues ainda criticou o jeito como se ensina literatura no país. O jornalista acha um erro, por exemplo, dar José de Alencar para alunos muitos jovens lerem — como se o ensino da literatura devesse seguir uma ordem cronológica do que foi produzido no Brasil.

    "É uma estupidez. Dar um autor contemporâneo, que dialogue com a linguagem dese menino, vai ser mais eficiente. Assim a gente salga a terra. Não só não formamos leitores, como evitamos que eles se formem por si", afirmou.

    Para quem quer escrever, acrescenta, a única solução é ler muito. Para aprender estilos, selecionar uma influência aqui e outra ali —e construir a sua própria voz.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024