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    Grego entrelaça Bíblia e poesia homoerótica de Safo na igreja da Flip

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    ENVIADA ESPECIAL A PARATY

    27/07/2017 22h47

    Bruno Santos/Folhapress
    Da esq. para a dir., Frederico Lourenço, Guilherme Gontijo Flores e o mediador Ángel Gurría-Quintana na Flip
    Da esq. para a dir., Frederico Lourenço, Guilherme Gontijo Flores e Ángel Gurría-Quintana na Flip

    A Igreja da Matriz de Paraty foi palco de uma performance insólita na noite desta quinta-feira (27): um tradutor português agnóstico leu um trecho da Bíblia em grego, seguido de um brasileiro que entoou um poema de Safo de Lesbos, também em grego. A leitura fez parte da mesa "Odi et Amo", que abordou a tradução de obras clássicas gregas.

    O português Frederico Lourenço, professor da Universidade de Coimbra, já verteu a "Odisseia" de Homero para o português e agora se dedica a traduzir a Bíblia do grego da forma mais literal possível.

    Ele acaba de publicar pela Companhia das Letras o Novo Testamento traduzido do grego.

    Fragmentos Completos de Safo
    Safo
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    Já o brasileiro Guilherme Gontijo Flores, professor de língua e literatura latina na Universidade Federal do Paraná, traduziu a poesia homoerótica de Safo

    seguindo o "ritmo e a musicalidade" originais, no livro "Fragmentos Completos: Safo", da editora 34.

    Com a mediação do experiente Angel Gurría-Quintana, uma mesa que poderia ter sido impenetrável para não iniciados prendeu a atenção e arrancou risos da plateia.

    Lourenço fez a primeira tradução não teológica da Bíblia a ser publicada em Portugal. Seu objetivo foi tratá-la como um documento histórico, da forma mais literal possível, sem as interpretações ligadas ao catolicismo ou protestantismo. "Tradução teológica é uma interpretação, as pessoas confundem interpretação católica da Bíblia com a Bíblia", diz o autor, que afirma não ser praticante de nenhuma religião.

    Já Flores se propôs a fazer uma tradução de Safo que respeitasse a musicalidade dos poemas, mas também o rigor filológico. "Fui estudar ritmos e métrica gregos, para que os poemas em português pudessem ser entoados e cantados no mesmo padrão rítmico que o grego."

    Flores, que também é poeta, diz ser bastante influenciado pelos poetas concretos brasileiros. Às vezes, opta por traduções mais heterodoxas de alguns versos para preservar a sonoridade do grego em português.

    Lourenço diz que seu projeto é fazer uma tradução tão isenta e literal quanto possível, a ponto de ter as mesmas palavras nas mesmas posições nas frases. Em Portugal, causou certa controvérsia. "As pessoas ficaram muito incomodadas pelo fato de o pai-nosso que elas rezam na missa ser diferente do pai-nosso em grego na tradução crítica", diz.

    "O capelão da Universidade de Coimbra às vezes me pergunta se o que acabou de ler na missa é o mesmo que está no texto grego, e tenho de dizer que não, não sei por que há tantas diferenças entre a liturgia católica e o que está escrito."

    A dramaturga mineira Grace Passô abriu a mesa com uma performance baseada em sua peça "Vaga Carne".

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