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    Pilar del Río exalta a memória de Saramago e o feminismo na Flip

    FERNANDA MENA
    ENVIADA ESPECIAL A PARATY

    28/07/2017 20h52

    Bruno Santos/Folhapress
    A escritora Pilar del Río na Flip
    A escritora Pilar del Río na Flip

    Jornalista, tradutora, ativista, anarquista, humanista. Multifacetada.

    Pilar del Río, 67, companheira de vida do Nobel português, José Saramago, foi apresentada pelo mediador Alexandre Vidal Porto nesta sexta-feira, na Flip, como "uma instituição".

    Foi logo dizendo que instituições não respondem perguntas e que, portanto, ela era apenas Pilar. E falaria em espanhol, sua língua-mãe, porque "os idiomas têm de ser respeitados".

    Ela subiu ao palco da Igreja Matriz sem a companhia prevista da arqueóloga Niéde Guidon, que não pôde vir a Paraty (RJ) por questões de saúde.

    Lépida, falou sobre crescer num mundo ditado pelos homens. "A ditadura espanhola era feita por homens. A Igreja, também. A única mulher importante era virgem e mãe", disse, referindo-se à Virgem Maria, sentada no altar da igreja que abrigou parte da festa literária deste ano. "E eu logo comecei a questionar porque, para ser valorizada, a mulher precisava ser mãe, e ter concebido sem ter desfrutado de seu corpo."

    Responsável pela Fundação José Saramago, ela defendeu o uso do termo presidenta para descrever seu cargo e o de todas as mulheres nessa posição. "Não usávamos esse termo porque não havia mulheres presidentas. A presidente é uma incorreção, é uma falta. Se eu fosse professora e alguém falasse presidente a uma mulher, seria reprovado."

    Pilar destacou, entre os trabalhos da fundação de seu companheiro, a promoção da "Declaração Universal dos Deveres Humanos", concebida por Saramago e apresentada no ato de aceitação do Nobel, ocasião em que era celebrado o aniversário de 50 anos da "Declaração Universal dos Direitos Humanos".

    "Nestes 50 anos, não parece que os governos tenham feito pelos direitos humanos tudo aquilo a que, moralmente, quando não por força da lei, estavam obrigados. As injustiças multiplicam-se no mundo, as desigualdades agravam-se, a ignorância cresce, a miséria alastra", disse o escritor português no trecho lido durante a mesa.

    "Somos nós os protagonistas de nosso tempo e não serão os representantes em quem votamos que abrirão caminhos para nós –mas eles certamente podem fechá-los", comentou Pilar. "Portanto temos o dever de nos instruirmos, de sermos conscientes, de não sermos manipuláveis, de sermos cidadãos com alto conteúdo cívico que não nos adormeçam com contos."

    Segundo a jornalista, ser um cidadão ativo dá trabalho e que a passividade nos mata e mata as sociedades. "E temos de ser cidadãos e não consumidores. Como consumidores somos facilmente prescindíveis: no dia em que não podemos mais consumir, nos tornamos descartáveis. E não queremos ser descartáveis."

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