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    Confira os debates que aconteceram nas mesas da Casa Folha

    DE SÃO PAULO

    29/07/2017 13h59 - Atualizado às 23h06

    Penitenciárias femininas, questões raciais e censura a livros foram alguns dos temas debatidos na Casa Folha durante a Flip.

    Entre quinta (27) e domingo (30), foram realizadas dez mesas no espaço, que contaram com a participação de nomes como o médico Drauzio Varella, o jornalista e escritor Lira Neto, o compositor Nelson Sargento e a atriz Fernanda Torres.

    A programação da casa foi encerrada na manhã de domingo após o debate entre a escritora portuguesa Djaimilia Almeida e o editor da revista literária "Quatro Cinco Um", Paulo Werneck, sobre "Literatura fora do eixo".

    RELEMBRE OS DEBATES DA CASA FOLHA

    Quinta, 27/7
    10h (mesa 1)
    Mariliz Pereira Jorge e Sérgio Rodrigues
    Como escrever bem
    mediação: Sérgio Dávila

    Como Escrever Bem
    William Zinsser
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    O encontro entre o escritor Sérgio Rodrigues e a roteirista Mariliz Pereira Jorge, que abriu a programação da Casa Folha, foimarcado por críticas à situação política do Rio de Janeiro.

    "O Rio de Janeiro está na vanguarda do atraso", disse Rodrigues em resposta a um pedido do mediador para que explicasse a situação do Estado.

    Já a roteirista lembrou uma coluna que escreveu, intitulada "A Vida é Muito Curta para Morar no Rio". O texto era uma crítica à classe média alta que mora na zona sul da capital fluminense.

    "Minha crítica era a quem olha a paisagem maravilhosa e se esquece de todos os defeitos, a quem esquecia a quantidade de gente que morre nos morros", disse ela.

    15h (mesa 2)
    Raul Juste Lores
    Quando São Paulo era moderna
    mediação: Fernanda Mena

    Uma combinação de políticas públicas equivocadas e conjuntura econômica negativa acabou com a era de ouro da arquitetura modernista no Brasil e explica, em parte, o caos urbano da São Paulo atual.
    Em debate para o lançamento do livro "São Paulo nas Alturas - A Revolução Modernista da Arquitetura e do Mercado Imobiliário nos Anos 1950 e 1960", do selo Três Estrelas, o repórter especial da Folha Raul Juste Lores disse que sua obra tenta mostrar como a arquitetura brasileira, que nas décadas de 1950 e 60 era referência mundial, acabou degringolando.

    "Se você caminha e visita esses prédios em São Paulo, como o Copan, Itália e o Conjunto Nacional, construídos durante o apogeu da arquitetura modernista na cidade), percebe o quanto a gente piorou, não só esteticamente", disse.

    17h30 (mesa 3)
    Lira Neto e Nelson Sargento
    Não deixe o samba morrer
    mediação: André Barcinski

    O samba pode até agonizar com a criação de novos ritmos e a apropriação cultural, mas nunca vai morrer, afirmou o sambista e presidente honorário da Mangueira, Nelson Sargento.

    A declaração foi uma resposta à provocação do jornalista André Barcinski, mediador da mesa, que citou um trecho da música "Agoniza, mas Não Morre" de Nelson. "Samba/ Agoniza mas não morre/ Alguém sempre te socorre/ Antes do suspiro derradeiro."

    Durante o debate, Sargento e o jornalista Lira Neto -que lançou neste ano o livro "Uma História do Samba: As Origens", primeira parte de uma trilogia sobre o gênero- reconstruíram o início do samba, que nasceu nas periferias pelas mãos dos negros e pobres.

    Sexta 28/7
    10h (mesa 4)
    Drauzio Varella
    Prisioneiras
    mediação: Fernanda Mena

    A alta natalidade entre as mulheres jovens de classe baixa é um componente crucial para o quadro de violência no país, explicou o médico Drauzio Varella ao longo do encontro.

    O local teve sua mesa mais lotada em sete edições. Um público de cerca de 200 pessoas, na maioria mulheres, se reuniu para a conversa. O tema era o recente "Prisioneiras" (Companhia das Letras), que encerra a trilogia carcerária do autor e colunista da Folha e se baseia na sua experiência atuando, desde 2006, como voluntário em penitenciárias femininas.

    15h (mesa 5)
    Pierre Moreau
    Grandes crimes, grandes advogados
    mediação: Patrícia Campos Mello

    Crimes de grande repercussão fazem a roda do direito girar ao introduzir novas interpretações da lei. Por vezes, dada a comoção popular, até fazem com que a legislação seja revista, emendada.

    Uma coleção deles está reunida na antologia "Grandes Crimes", da Três Estrelas, selo editorial do Grupo Folha,lançada na tarde de sexta (28), na Casa Folha.

    Participaram do encontro o organizador da obra, Pierre Moreau, e alguns profissionais do direito que assinam textos no volume, como o ex-chanceler Celso Lafer, o ex-presidente do TJ-SP e atual secretário da Educação de São Paulo, José Renato Nalini, e o criminalista Eduardo Muylaert.

    17h30 (mesa 6)
    Frederico Lourenço e Reinaldo José Lopes
    Deus e Darwin
    mediação: Francesca Angiolillo

    As relações de aproximação e embate entre ciência e fé foram o norte do debate que reuniu o jornalista Reinaldo José Lopes e Frederico Lourenço, linguista que divulga na Flip o primeiro volume de sua tradução da Bíblia, com os quatro Evangelhos.

    Lourenço explicou sobre o tratamento sem viés religioso de sua tradução -mais atenta ao contexto histórico da bíblia grega.

    "Como em Portugal existem excelentes bíblias católicas, sentia falta de um Novo Testamento com esse tipo de informação. A linguística, a ciência e a filologia podem ajudar a ter uma visão mais abrangente desses textos", disse o tradutor.

    Sábado 29/7
    10h (mesa 7)
    Lázaro Ramos e Lilia Schwarcz
    Questão racial no Brasil: ontem e hoje
    mediação: Maurício Meireles

    O ator e escritor Lázaro Ramos e a historiadora Lilia Moritz Schwarcz disseram que o racismo precisa ser encarado como um problema de todos no Brasil, não só dos negros, seu principal alvo.

    A mesa lotou o espaço da rua do Comércio, e muitas pessoas assistiram do lado de fora, onde se formou uma longa fila. A primeira pessoa chegou às 6h –o debate começava às 10h. Os dois convidados foram aplaudidos efusivamente em vários momentos do encontro.

    "Temos de sair deste lugar do Lima [Barreto, homenageado desta Flip], de falar de preconceito a partir do outro, do negro", afirmou Lázaro, que lançou há pouco "Na Minha Pele" (Objetiva), em que costura memórias pessoais e reflexões em torno do racismo.

    15h (mesa 8)
    Luiz Felipe Pondé
    Filosofia do marketing existencial
    mediação: Lucas Neves

    Convidado a relacionar a política à sua teoria do marketing existencial, o filósofo, professor e colunista da Folha Luiz Felipe Pondé argumentou que a falta de noção clara de como a sociedade se organiza e a expectativa política que acaba decorrendo disso pode produzir uma sensação de vazio. "Isso aconteceu com quem tinha expectativa de que o PT ia salvar o Brasil. Muitas pessoas entraram em crise com isso."

    Afirmou, no entanto, não padecer desse mal-estar. "Posso sofrer desencanto com muita coisa na vida, mas com política é muito difícil. Com política eu não tenho muita esperança."

    Para ele, a escolha da curadoria desta edição da Flip, de trazer mais negros e mulheres como convidados, é um exemplo claro de como a sociedade de mercado rompe conceitos.

    17h30 (mesa 9)
    Cristovão Tezza e Fernanda Torres
    Arte da escrita, arte da leitura
    mediação: Sérgio Dávila

    A proximidade entre a literatura e o teatro, seja na influência da oralidade na linguagem escrita, seja na facilidade com que um livro pode ser traduzido para os palcos, foi um dos temas de debate entre Fernanda Torres e Cristovão Tezza.

    A atriz e escritora e o autor catarinense, que já escreveu peças, atuou e foi até iluminador de palco, trataram da influência da oralidade na linguagem escrita e da facilidade com que um livro pode ser traduzido para o teatro, caso do livro "O Filho Eterno", de Tezza.

    Os autores também falaram sobre os graus de dificuldade de produzir diferentes gêneros, como a crônica, a crítica e o romance. "Para mim, o mais difícil no exercício da crônica é ser sucinto", disse Torres.

    Domingo 30/7
    10h (mesa 10)
    Djaimilia Almeida e Paulo Werneck
    Literatura fora do eixo
    mediação: Patrícia Campos Mello

    "O livro é um território de liberdade. Eu acredito que as pessoas têm liberdade para tudo, inclusive para escolher o que querem ler. Não cabe aos editores censurar", afirmou a escritora portuguesa Djaimilia Pereira de Almeida.

    A autora, que participou da mesa "Literatura Fora do Eixo", se referia à atuação dos leitores sensíveis, revisores que vêm sendo contratados por editoras para identificar conteúdos ofensivos a minorias. "Se você censura os livros antes de eles saírem, tira das pessoas a capacidade de decidirem o que não querem ler".

    Para o editor da revista literária "Quatro Cinco Um", Paulo Werneck, que também participou do debate, ainda mais grave são os "pais sensíveis", que vão às escolas pedir que livros sejam retirados da grade curricular.
    Werneck citou o caso de "Lá Vem História: Contos do Folclore Mundial", de Heloisa Prieto, que foi rejeitado por pais de alunos ao retratar um casal homossexual.

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