• Ilustrada

    Sunday, 28-Apr-2024 04:26:00 -03

    Ícone do cinema francês, atriz Jeanne Moreau morre aos 89 anos

    DA AFP

    31/07/2017 06h42

    Jeanne Moreau, uma das atrizes mais emblemáticas do cinema francês e musa da "nouvelle vague", faleceu em Paris aos 89 anos, informou nesta segunda-feira (31) seu agente.

    Moreau, que atuou em mais de cem filmes ao longo de uma carreira de 65 anos, incluindo "Amantes", de Louis Malle, "Jules e Jim" de François Truffaut, e "O Diário de uma Camareira", de Luis Buñuel, foi encontrada morta em sua residência na capital francesa, afirmou à AFP a prefeita de seu distrito, Jeanne d'Hauteserre.

    De acordo com várias fontes, o corpo foi encontrado na manhã desta segunda-feira por uma pessoa que trabalhava na limpeza da casa.

    "Se foi uma parte da lenda do cinema", afirmou o presidente francês Emmanuel Macron em um comunicado, no qual descreve Moreau como uma mulher "livre, rebelde e a serviço das causas nas quais acreditava".

    Seu talento, beleza fora do comum e voz profunda fascinaram grandes cineastas, como Joseph Losey ("Eva"), Wim Wenders ("Até o Fim do Mundo") e Orson Welles ("História Imortal"), que a descreveu como "a melhor atriz do mundo".

    "Tenho dentro de mim uma espécie de energia que não controlo", explicou a artista, para quem o cinema "não era uma carreira, e sim uma vida".

    "Para mim o cinema nunca foi uma indústria. Não me importa meu valor na bilheteria", afirmou uma vez.

    Moreau, que trabalhou até os 87 anos, pensava que com o tempo e o sucesso fazer seu trabalho estava se tornando "cada vez mais difícil", sobretudo diante da "tentação, à qual não se deve ceder, de fazer qualquer coisa para agradar o público, ao invés de fazer aquilo com o que estamos profundamente de acordo".

    ÍCONE FEMINISTA

    Jeanne Moreau interpretou várias mulheres rebeldes, inconformadas e à margem da sociedade.

    Em "Duas Almas em Suplício", de Peter Brook, que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes em 1960, deu vida a uma mulher da burguesia insatisfeita, atormentada.

    Protagonista de "Jules e Jim", de François Truffaut (1962), um dos filmes mais cultuados da "nouvelle vague", encarnou uma mulher livre e moderna, enquanto em "A Noiva Estava de Preto" (1967) matou cinco homens por vingança a sangue frio.

    Em 1998 recebeu um Oscar honorário pelo conjunto de sua carreira das mãos de Sharon Stone. Dez anos depois recebeu um "Super César", uma homenagem da Academia de Cinema francesa.

    Começou sua carreira no teatro aos 19 anos, integrou a Comédie-Française e participou no primeiro Festival de Avignon em 1947, sob a direção artística de Jean Vilar, antes de retornar ao mesmo evento 60 anos mais tarde.

    Jeanne Moreau se casou duas vezes, a primeira em 1949 com o cineasta Jean-Louis Richard, com quem teve um filho Jérôme. O segundo matrimônio, com o diretor americano William Friedkin, durou dois anos.

    *

    dez filmes essenciais

    "Ascensor para o Cadafalso" (1958)
    O longa de Louis Malle põe a francesa no papel de uma mulher que se junta ao amante para assassinar o marido, mas as coisas não saem como planejado

    "Amantes" (1958)
    Malle e Moreau repetem a parceria, que rendeu à atriz o prêmio de interpretação no Festival de Veneza por seu papel de uma mulher sexualmente liberal

    "Duas Almas em Suplício" (1960)
    Mais uma vez premiada, desta vez em Cannes, a francesa vive uma burguesa que se apaixona por um operário (Jean Paul Belmondo), ambos testemunhas do fim trágico de outro casal

    "A Noite" (1961)
    Escalada pelo italiano Michelangelo Antonioni, Moreau faz par com Marcello Mastroiani nessa trama sobre um casal cuja relação está para lá de desgastada

    "Jules e Jim - Uma Mulher para Dois" (1962)
    Em seu filme mais famoso, Moreau interpreta a caprichosa Catherine, um dos vértices do triângulo amoroso que envolve dois amigos boêmios no longa de François Truffaut

    "Diário de uma Camareira" (1964)
    Luis Buñuel chamou Morey para viver a personagem-título, que é testemunha das perversidadese dos fetiches de seus patrões, donos de uma casa no campo

    "Viva Maria!" (1965)
    Moreau e Brigitte Bardot fazem o papel de uma dupla de cantoras/dançarinas que se envolvem numa revolução socialista em um país da América Central

    "A Noiva Estava de Preto" (1968)
    Novamente dirigida por Truffaut, ela interpreta uma viúva que empreende uma vingança contra os homens que assassinaram o seu marido no dia de seu casamento

    "Joanna Francesa" (1973)
    Dirigida por Cacá Diegues, a atriz faz o papel da dona de um bordel em São Paulo que se torna senhora de engenho no interior do Nordeste; foi dublada por Fernanda Montenegro

    "Uma Dama em Paris" (2012)
    Num de seus últimos filmes, ela interpreta uma velha imigrante da Estônia que precisa de cuidados especiais e que busca a atenção de seu ex-amante, anos mais novo

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024