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    'Eu já nasci música', diz Hermeto Pascoal, que lança dois álbuns este ano

    THALES DE MENEZES
    DE SÃO PAULO

    01/08/2017 02h13 - Atualizado às 14h25
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    Gabriel Quintão/Divulgação
    Pascoal apresenta o novo álbum no Festival Jazz na Fábrica, nos dias 12 e 13 de agosto
    Pascoal apresenta o novo álbum no Festival Jazz na Fábrica, nos dias 12 e 13 de agosto

    Aos 81 anos, Hermeto Pascoal é o primeiro a admitir que lançar dois discos em um mesmo ano é algo incomum em sua trajetória. Ele apresenta no Festival Jazz na Fábrica, que acontece nos dias 12 e 13 de agosto no Sesc Pompeia, o álbum "No Mundo dos Sons". Antes do final do ano sai outro disco que fez tocando com big band.

    "Eu nunca gostei de lançar os discos um em cima do outro", diz o músico à Folha. "O que eu faço já não é uma coisa que toque muito aqui no Brasil. Então, para dar um tempo para que o povo tenha mais acesso àquilo que eu faço, eu espero até anos. Antigamente lançava disco de três em três anos, até mais, para dar um tempo para as pessoas, para não embolar."

    Os dois discos são bem diferentes. O álbum com big band é apoiado pelo edital Natura Musical e traz músicas antigas, algumas escritas há 20 ou 30 anos, exploradas no formato de uma orquestra de 20 instrumentistas.

    "No Mundo dos Sons" só tem músicas inéditas, 18 faixas em CD duplo, com a formação atual que acompanha Hermeto: Itiberê Zwarg (baixo), Ajurinã Zwarg (bateria), André Marques (piano), Jota P. (sax) e Fabio Pascoal (filho de Hermeto, na percussão).

    Ele não concorda que faça música difícil. "Ela é difícil para quem não nasceu para a música. Infelizmente, a maioria não nasceu. Eu nasci. Não nasci músico, como muitos falam, eu já nasci música!"

    Seu grupo precisa estar preparado para as improvisações e mudanças de rota que o líder propõe. Antes de entrar no palco para um show, a banda escolhe 12 músicas de uma lista prévia com cerca de 30.

    "Mas nunca saem essas 12 como deveria ser", conta Hermeto. "Quem vai mudando a estratégia do show sou eu, como se fosse um técnico de futebol. Se não digo nada, os meninos vão tocando as músicas combinadas. Mas eles estranham quando fico umas três músicas sem falar nada, já sabem que daqui a pouco muda. Troco as músicas ou às vezes crio uma no palco."

    Ele refuta qualquer planejamento. "Não gosto de fazer a coisa bolada. Se eu te disser agora na entrevista como será o meu show, depois você vai me xingar, porque vai sair tudo diferente. O que eu digo um dia, depois não lembro mais para fazer desse jeito."

    "O bom é ouvir o arranjo e não escutar mesmice. Certas horas eu transformo o piano em instrumento de percussão." Consagrado como instrumentista com prêmios recebidos ao redor do mundo, Hermeto agora quer ser menos pianista e dar mais atenção ao lado de compositor e arranjador. "Nesses dois discos escolhi solar menos, tocar menos o piano e deixar os músicos tocarem mais."

    "No Mundo dos Sons" tem faixas dedicadas a pessoas importantes na vida de Hermeto, algumas já mortas, como Tom Jobim, Sivuca, Miles Davis e Astor Piazzolla.

    "Para mim não tem diferença o cara ter morrido ou estar na Terra. O que deixou escrito não morre. Às vezes sinto todos no palco. O Piazzolla vai aos meus shows, espiritualmente. Aparece mais do que quando estava vivo. Eu encontrava mais ele no aeroporto do que vendo um show dele ou ele vendo o meu. Eu falo para o público que o aplaudam."

    *

    NO MUNDO DOS SONS
    AUTOR Hermeto Pascoal & Grupo
    LANÇAMENTO Selo Sesc
    QUANTO R$ 30 (CD duplo)

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