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    Poucos cineastas brasileiros sabem dirigir atores, diz Selton Mello

    LEONARDO NEIVA
    DE SÃO PAULO

    02/08/2017 09h00

    Pouquíssimos diretores brasileiros entendem o que é atuar e sabem dirigir atores. A afirmação, feita por Selton Mello –que nesta semana lança seu terceiro longa-metragem, "O Filme da Minha Vida", em que também atua– revela uma das motivações para que o artista tenha passado a trabalhar também atrás das câmeras.

    "Eu fui dirigido por no máximo cinco diretores na minha carreira", afirmou. "O que mais fiz foi me autodirigir, agora só assumi isso de vez." Na segunda-feira (31), ele participou de um debate depois da sessão de pré-estreia de seu novo filme, realizada pela Folha. Também integraram a discussão os atores Johnny Massaro, Rolando Boldrin e Ondina Clais, além da produtora Vânia Catani. A mediação foi de Lucas Neves, editor-adjunto da "Ilustríssima".

    Selton Mello afirma que sempre foi um ator-autor e procurava entender detalhes da filmagem, como a escrita do roteiro e a fotografia. Hoje, quando participa de projetos com outros diretores, prefere não se envolver em aspectos para além da atuação. "Se eu for falar alguma coisa, vão dizer: agora o cara é diretor, vai querer dar palpite no meu filme."

    A preocupação com as atuações fez com que o cineasta selecionasse pessoalmente todo o elenco principal que, além de Massaro, Bruna Linzmeyer e Bia Arantes, rostos conhecidos da televisão, conta com Vincent Cassel, astro francês que mora no Rio, e Rolando Boldrin, ator, músico e apresentador, hoje à frente do programa Sr. Brasil, da TV Cultura.

    Um Pai de Cinema
    Antonio Skármeta
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    Baseado no livro "Um Pai de Cinema", do chileno Antonio Skármeta, o filme conta a história do jovem Tony Terranova (Massaro), professor recém-formado na capital que volta para casa no momento em que vê o pai (Cassel) ir embora para a França.

    Ambientada em uma cidadezinha da Serra Gaúcha na década de 1960, a trama acompanha os dilemas do protagonista no início da vida adulta, como o primeiro amor e a perda da virgindade, além de ter que lidar com a angústia da mãe abandonada e as dúvidas sobre o paradeiro do pai.

    O longa também marca o retorno de Boldrin, 80, às telas de cinema, após um hiato de 18 anos. Ele disse que o convite "foi um presente" e que poder voltar a atuar foi "uma experiência emocionante".

    Segundo Mello, diferentemente de seu longa de estreia, "Feliz Natal", que ele classifica como "um filme de um fã do [cineasta] John Cassavetes", a maior referência cinematográfica para "O Filme da Minha Vida" foi a própria infância, passada em parte no campo, e também um quadro pintado por sua mãe, que chegou a inspirar uma das cenas.

    Questionado sobre a ligação da obra com a realidade política turbulenta do país, Selton Mello afirmou que a produção chega em um momento apropriado, por ser "um filme gentil em uma hora nada gentil".

    "A realidade está em todo lugar, na TV, no jornal, então me agrada fazer algo mais próximo do sonho", disse. "Criar algo poético também é uma arte de resistência."

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