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    CRÍTICA

    Com disco gostosinho, Otto busca público eclético como ele

    THALES DE MENEZES
    DE SÃO PAULO

    03/08/2017 02h00

    OTTOMATOPEIA (muito bom)
    ARTISTA Otto
    LANÇAMENTO Pommelo Discos
    QUANTO R$ 30 (CD)

    *

    Otto é uma espécie de porto seguro para todos os gêneros. Quando decide gravar um disco, parece estar sempre com a mente escancarada para receber, digerir e regurgitar ideias variadas que, de alguma maneira, ficam com cara de "coisa do Otto".

    Difícil dizer se "Ottomatopeia" é melhor do que seus discos anteriores. Provavelmente nem é preciso explorar essa comparação. É um álbum diferente do que ele já fez.

    Deixa de lado um pouco da inquietude que provocou uma gangorra de resultados no estúdio, na qual seus fãs às vezes gostam muito de um disco e não tanto de outro. Otto está mais "calmo", e isso não fez mal a seu som.

    A experimentação que marca seus álbuns desde a estreia, "Samba pra Burro" (1998), e gerou trabalhos intrincados como "Sem Gravidade" (2003) ou "The Moon 1111" (2011), agora cede bastante ao formato de canção. Ou ao mais próximo disso que Otto consegue chegar.

    "Ottomatopeia" é palatável, gostosinho, como se tivesse reservado espaço maior à afeição do artista por um canto mais popular, revelada anteriormente em, por exemplo, um cover de Odair José.

    Isso fica claro da faixa de abertura, "Bala", que com um pouco mais de peso poderia virar hit de axé music, até o encerramento com "Orumilá", na qual a participação de Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, parece a coisa mais natural do mundo numa música de batidas afro.

    Há uma unidade percorrendo o disco, mesmo em momentos potencialmente díspares como a roqueira "Atrás de Você" seguida da balada "Carinhosa", que traz cello, trompa e o violão com DNA de MPB de Zé Renato, parceiro de Otto na composição.

    A variação de gêneros, ou pelo menos de sotaques estilísticos, faz bem ao trabalho.

    Assim, a releitura de "Meu Dengo", de Robert Miranda, que Otto canta com ajuda da autora e de Céu, não rende qualquer estranhamento. Otto transmite confiança no próprio taco. Parece gostar de coisas diferentes e busca um público também eclético.

    Sua missão é facilitada pela produção de Pupillo, da Nação Zumbi. Os méritos do produtor também estão nas baquetas. Ele toca bateria nas 11 faixas do álbum, em quase todas formando uma cozinha irresistível com Alberto Continentino, o baixista quase onipresente nos bons discos das últimas temporadas.

    Some-se a participação certeira dos teclados de Donatinho, que imprime textura vintage a "Pode Falar, Cowboy" e "Caminho do Sol", e a cama musical está pronta para Otto deitar e rolar. E sonhar com mais sucesso popular.

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