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    CRÍTICA

    Escolha de não atores pesa sobre 'Rifle', gravado no interior do RS

    ANDREA ORMOND
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    03/08/2017 01h00

    Divulgação
    Cena do filme 'Rifle', que retrata fazenda ameaçada na região Sul do Brasil
    Cena do filme 'Rifle', que retrata fazenda ameaçada na região Sul do Brasil

    RIFLE (regular)
    DIREÇÃO Davi Pretto
    ELENCO Dione Avila de Oliveira, Francisco Fabrício Dutra dos Santos, Andressa Goularte
    PRODUÇÃO Brasil/Alemanha, 2016, 12 anos
    Veja salas e horários de exibição

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    Depois de vários minutos, o espectador consegue entender algum diálogo de "Rifle". Sem esse impedimento, talvez o longa-metragem de Davi Pretto voasse mais alto.

    A sinceridade dos intérpretes –escolhidos entre moradores do interior do Rio Grande do Sul– não resolve totalmente o incômodo.

    Escolher atores não profissionais para um filme não é novidade. A Sinhá Vitória de "Vidas Secas" (1963) ficou com Maria Ribeiro, faturista da Líder Cinematográfica. Em plena ditadura, José Mojica Marins colocou o delegado Sérgio Paranhos Fleury em "O Ritual dos Sádicos" (1969).

    O problema ocorre quando a estratégia impede o prazer de se assistir ao filme.

    Pulada essa barreira inicial, "Rifle" acompanha o capataz Dione, nos pampas gaúchos. Sabemos pouco dele, apenas que é ex-militar. Não tem família. Namora a filha do dono de uma fazenda.

    Este é o aspecto mais interessante do roteiro de Pretto e Richard Tavares: Dione trabalha para um fazendeiro pobre. E todos parecem estar a um passo de serem vencidos, a um passo de serem expulsos do lugar. A fazenda talvez seja vendida, o gado será substituído pela soja. O agronegócio acabará com a essência dos pampas: a liberdade.

    De certa forma, acabar com a liberdade do pampeiro é feri-lo de morte. Seja no Brasil, na Argentina ou no Uruguai, temos aí um dado cultural de centenas de anos. Andar nas planícies, domar cavalos, lidar com os animais, ter uma relação problemática com o "patrón".

    Vale lembrar o compositor argentino Horacio Guarany. Na letra de "Caballo Que No Galopa", Horacio fala do homem independente, que se vai sozinho e galopando, com as lágrimas debaixo do poncho, porque a ele não é dado chorar.

    Em "Rifle" ouvimos falar dos patrões ricos, dos donos das grandes estâncias, mas não os vemos. E Dione, ao mesmo tempo em que procura um bico para tentar sobreviver, entra em um processo de loucura. A tensão do filme está toda nele, que, apesar de jovem, sente uma irritação tremenda por Mariano, o senhor grisalho que rouba gado nas redondezas.

    Seria Dione um reacionário? Seria um homem oprimido pelo sistema? O processo de alucinação é captado por Davi Pretto em delírios visuais que ficam devendo para o público. Como as questões não são de todo bem resolvidas, "Rifle" diminui consideravelmente o impacto da selvageria de Dione.

    Assista ao trailer do filme 'Rifle'

    Assista ao trailer do filme 'Rifle'

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