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    Análise

    Detalhes levam visão feminina a 'O Estranho que Nós Amamos'

    TETÉ RIBEIRO
    EDITORA DA "SERAFINA"

    09/08/2017 02h02

    "O Estranho que Nós Amamos", de Sofia Coppola, é uma versão de um filme e de um livro de 1966 escrito por Thomas Cullinan (1919-1995), todos de mesmo título ("The Beguiled", "o seduzido").

    Em português os dois filmes ganharam a mesma tradução, "O Estranho Que Nós Amamos", e o primeiro é um clássico dos anos 1970, com Clint Eastwood no auge do seu charme de macho alfa.

    Na trama, um soldado da União, ferido, é resgatado por uma menina de um internato para garotas no Estado sulista da Virgínia, dominado pela Confederação, durante a Guerra Civil americana.

    O soldado, nortista, é visto como inimigo, mas, como está muito machucado, recebe a ajuda das mulheres do colégio já quase vazio.

    A história dos dois longas é idêntica, mas os detalhes revelam de que lado está a sensibilidade de cada diretor.

    No filme de 1971, dirigido por Don Siegel (de "Dirty Harry"e "Alcatraz - Fuga Impossível", ambos com Eastwood), Clint vira objeto de desejo quase incontrolável das mulheres mais velhas, enquanto se transforma em uma curiosidade das mais novas.

    Ninguém resiste a ele, que está preso entre mulheres quase tão cruéis quanto os soldados inimigos e não consegue ter controle dos seus instintos sexuais, ainda que tenha preferência por uma das alunas mais velhas.

    Mas ele é um homem que pode ser violento e manipulador, portanto mais poderoso que as mulheres, tratadas como pessoas tensas, ciumentas, possessivas. É definitivamente um filme do ponto de vista de um homem.

    No de Sofia Coppola acontece o oposto, e o filme é mais sutil, tanto com o sentimento do soldado quanto com o das mulheres. O estranho (Colin Farrell) é apenas um homem viril e bonito que atrai a atenção delas. Desperta desejo nelas e elas nele, mas menos senso de perigo.

    É o ponto de vista das mulheres que interessa aqui. E o estilo da diretora –que faz seu primeiro thriller, como se fosse um passo adiante na escola de "As Virgens Suicidas" e "Maria Antonieta"– leva o filme inteiro quase como um sonho, como se a escola existisse em outro tempo.

    Nicole Kidman tem o papel mais importante, como a diretora, Martha, e ela tenta manter o controle e a ordem mesmo quando começa a nutrir fantasias com o visitante.

    A personagem de Kirsten Dunst, Edwina, é mais romântica e direta, enquanto Elle Fanning, como Alicia, se sente pela primeira vez na vida atraída por um homem. O soldado pensa que pode ter a mulher que quiser naquele grupo, mas está subestimando suas hospedeiras.

    É na cena central do filme que o ponto de vista, machista ou feminista, mais aparece, e essa não dá para contar.

    Só posso dizer que, o que no filme original parece vingança, no de Coppola, que é muito melhor, parece inevitável e inesperado, como todo bom final de filme deveria ser.

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