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    CRÍTICA

    'Malasartes' é infeliz batalha entre cômico picaresco e efeitos visuais

    INÁCIO ARAUJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    10/08/2017 01h00

    MALASARTES E O DUELO COM A MORTE (regular)
    DIREÇÃO Paulo Morelli
    ELENCO Jesuíta Barbosa, Isis Valverde, Milhem Cortaz
    PRODUÇÃO Brasil, 2017, 12 anos
    Veja salas e horários de exibição

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    Tudo começa com uma boa ideia: por que não retomar Pedro Malasartes, o clássico personagem do folclore, o espertalhão que vive de passar a perna em quem encontra pela frente, mais até pelo prazer do que pela necessidade? Retoma-se o tipo caipira que, no mais, Mazzaropi já havia desenvolvido em seu filme de 1960.

    Logo de cara, temos em "Malasartes e o Duelo com a Morte" uma situação bem definida: o próprio Pedro (Jesuíta Barbosa), a namorada graciosa (Isis Valverde) e o irmão dela (Milhem Cortaz),o furioso, que quer ver Malasartes pelas costas, se possível morto.

    Um clichê, é verdade, mas um desses clichês de que o público não se cansa. Então, vamos em frente. Logo de início, providencia-se um comparsa para Malasartes, na pessoa de Zé Candinho, o trouxa em quem ele aplica a primeira (e bem simpática) peça que vemos no filme. Apesar disso, eles se tornam amigos.

    Tudo está, assim, encaminhado. Apesar da fotografia de filme publicitário. Mas pode-se pensar que isso empesteia uma parte considerável do cinema comercial brasileiro. O real problema vem da infeliz ideia de dar, ao picaresco herói, um inimigo tão possante quanto a Morte em pessoa (Julio Andrade).

    A catástrofe se dá em vários níveis. No de roteiro, limita a ação a um enfrentamento tão grandioso que todos os demais não passam de molduras, submetidos a essa batalha. Ainda assim, pode-se imaginar que a batalha seja vencida (pelo filme). Que tal se a Morte fosse tão dada a diabruras quanto Malasartes?

    Paulo Morelli não seguiu por esse caminho: criou uma Morte tão grave que o conflito real não é entre os dois personagens, mas entre dois estilos. De um lado temos o filme cômico picaresco, do outro o filme de efeitos especiais.

    Nessa outra batalha ganham, é claro, os efeitos. É neles, de resto, que a produção joga suas melhores esperanças. Essa opção transforma a Morte numa espécie de clone de magos da escola de Harry Potter, com moradia num barranco que lembra certas passagens de "O Senhor dos Anéis".

    Preso nessa armadilha, "Malasartes" não desenvolve a graça que se poderia esperar do protagonista (e do promissor enfrentamento com o irmão da namorada e outras de suas vítimas), nem a magia dos efeitos, nem mesmo o hipotético humor (fosse negro, ou irônico ou sarcástico) da Morte.

    O que não impede de constatar que o personagem é tremendamente apropriado para o momento brasileiro (e portanto suscetível de atrair bom público), já que é em meio a espertezas de todos os tipos que parecemos existir atualmente.

    Assista ao trailer de 'Malasartes'

    Assista ao trailer de 'Malasartes'

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