Poucos períodos criativos na carreira de qualquer grande artista podem se comparar aos seis anos em que Bach (1685-1750) foi diretor musical da corte de Leopold, na pequena Köthen (Alemanha).

Certos intérpretes fundamentam repertórios inteiros nas composições dessa época. É o caso do pianista húngaro, que se apresenta duas vezes nesta semana na Sala São Paulo pela temporada Cultura Artística.

Nesta terça, toca a integral do primeiro volume de "O Cravo Bem Temperado". Sua gravação é uma das principais referências nesta década.

São 24 movimentos que seguem a escala cromática (teclas brancas e pretas) –dó, dó sustenido, ré, ré sustenido etc.– e que aparecem nos dois modos do sistema tonal: o maior e o menor. Assim, Bach escreve um "Prelúdio" e uma "Fuga" em dó maior (n.1), depois em dó menor (n.2), até o si menor (n.24).

Outra característica é que Bach prevê um "tempero" à afinação de seu tempo, que privilegiava tonalidades mais usadas em detrimento de outras, que soavam desafinadas. Hoje isso é desnecessário, pois cada oitava é dividida em 12 partes iguais, homogeneizando as relações entre notas.

Tudo isso pode esconder o principal: o impacto sensível e a força cognitiva dos 24 pares. Em cada um deles, Bach atinge equilíbrio perfeito e variado entre melodias e harmonias. Com Schiff, cada voz é trabalhada em cor e luz; a condução é austera, os câmbios de volume matizados.

Na quinta (24), Schiff mostra as 15 "Invenções a Três" de Bach divididas para se alternarem com obras de Bartók (1881-1945); na sequência, sonatas de Janácek (1854-1928) e Schumann (1810-1856).

Se o primeiro programa aposta na homogeneidade radical, o segundo busca unidade na diversidade. Bach é a substância de ambos.

ANDRÁS SCHIFF
QUANDO ter. (22) e qui. (24), 21h
ONDE Sala São Paulo, praça Júlio Prestes, 16, tel. (11) 3256-0223
QUANTO de R$ 52,50 a R$ 165
CLASSIFICAÇÃO livre