Vinte anos depois dos anos 1980, um grupo de amigos que cresceu naquela década se uniu para fazer as festas chamadas Trash 80's. Tocando Xuxa, Michael Jackson e Menudo, os eventos se tornaram um enorme sucesso nas noites paulistanas dos anos 2000.

Mas foi preciso que transcorresse mais uma década para que a molecada daquela geração tivesse acesso a dinheiro, experiência e oportunidade para produzir uma obra capaz de reconstruir aqueles anos perdidos com as minúcias de quem os viveu.

"Bingo - O Rei das Manhãs" é o primeiro longa dirigido por Daniel Rezende, 42. Ele foi ao "Bozo" (SBT) quando criança. "Meu sonho era ir a todos os programas de televisão que existiam", conta. "Eu era muito vidrado em TV. Mas não lembro muito da experiência de ter ido no Bozo. Certamente eu não apareci na tela."

Seja como for, a infância nos anos 1980 norteou a vontade de Rezende (nascido em 1975) ao dirigir "Bingo". O estopim foi a leitura de uma reportagem com a história de Arlindo Barreto, um dos vários atores a viverem o Bozo no SBT, em que ele contava ter usado cocaína na época em que era palhaço na TV.

Foi a deixa para colocar na tela as fitas Basf ("eu gravava muitas fitas K-7"), o Aquaplay ("nosso joguinho de iPad"), o Mappin ("meu pai me levou lá várias vezes") e, é claro, as canções (veja abaixo).

A grande preocupação, conta Rezende, era não exagerar. "Seria muito fácil errar. Tínhamos de deixar os cabelos, as roupas, os objetos, tudo em segundo plano."

O diretor de arte Cassio Amarante, 50, exprime o conceito de outra forma: "Quando você está nos anos 1980, você também usa roupas dos 1970. Não pode ser tudo novinho ou não parece honesto".

Muita coisa nem precisou parecer honesto, já que era mesmo. Por exemplo: Amarante encontrou um lote de fitas Basf novas em uma loja na rua Sete de Abril. Ou: os estúdios das emissoras foram montados na TV Cultura, onde o diretor de arte conseguiu trabalhar com câmeras de televisão dos anos 1980 ainda em funcionamento.

"Para as externas, escolhemos um quadrilátero muito especial, que mantém características mais antigas: a região da avenida São Luís, galeria Metrópole, edifício Itália, avenida Ipiranga, bar Estadão, o Theatro Municipal, a praça da República."

Para completar, nada melhor que um produtor também vindo diretamente dos anos 1980. Caio Gullane, 44, ainda por cima, começou a carreira como palhaço: "Fiz uma pontinha como um dos atores que tentam a vaga do Bingo", conta ele, que animava eventos de nariz vermelho quando tinha 18 ou 19 anos.

O produtor destaca a participação de Domingos Montagner (1962-2016) na pele de um palhaço que orienta Bingo em seus primeiros passos.

Morto há cerca de um ano no rio São Francisco, no intervalo de gravação de novela, Montagner também havia começado como palhaço. As filmagens foram no segundo semestre de 2015. "Será sua última estreia", diz Gullane.

O filme "Bingo" foi dedicado ao ator.

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EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO
Antiguidades que aparecem em 'Bingo'

	Cristina Guerra/Folhapress

MAPPIN
Uma panorâmica filmada por um drone revela a frente da loja da praça Ramos, fechada em 1999 e, no filme, reconstruída digitalmente

	Divulgação

FIAT 147 AZUL
O protagonista tem um desses, produzido aqui entre 1976 e 1986

	Apu Gomes/Folhapress

AQUAPLAY
Ainda em produção pela Estrela nas versões futebol, basquete e, agora, princesas Disney, por R$ 89,99

	Reprodução

ECHO & THE BUNNYMEN
Banda-chave do período, tem 'Bring on the Dancing Horses' tocada no filme

	Lucas Lima/Folhapress

OPALA SS COR DE LARANJA
Produzido entre 1970 e 1980, o modelo esportivo que Bingo dirige possui motor 4.1

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HIT PARADE
As melhores do filme

'Conga, Conga, Conga', Gretchen
'Serão Extra', Dr. Silvana
'That's Good', Devo
'Tudo Pode Mudar', Metrô
'Humanos', Tokyo
'Uni Duni Tê', Trem da Alegria
'Casanova', Ritchie
'Televisão', Titãs
'99 Red Balloons', Nena

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