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    Vanguardista, Annette Peacock canta no festival Jazz na Fábrica

    CARLOS CALADO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    25/08/2017 11h50

    Reprodução
    Annette Peacock em foto do álbum 'An Acrobat's Heart
    Annette Peacock em foto do álbum 'An Acrobat's Heart'

    Annette Peacock já foi chamada de ícone da vanguarda, de "figura cult do underground" e de "símbolo cult do empoderamento feminino". Atração do festival Jazz na Fábrica, neste sábado (26) e domingo (27), em São Paulo, a compositora, pianista e vocalista nova-iorquina jamais seguiu padrões convencionais em sua música.

    Embora tenha despontado na cena musical dos anos 1960, tocando piano com o expoente do free jazz Albert Ayler, ou tenha composto peças experimentais para o trio do pianista Paul Bley, ela já não se identificava como jazzista naquela época.

    "Eu tinha um grande interesse pela música de vanguarda, pela liberdade, mas não me considerava uma musicista de jazz", diz à Folha. "Sou antes de tudo uma compositora. Gosto de criar ambientes, de tentar romper as fronteiras entre os gêneros musicais."

    Ainda na década de 1960, Annette vivenciou uma experiência radical que alterou sua maneira de encarar a música. Ao se aproximar do psicólogo e neurocientista Timothy Leary, ideólogo do uso criativo do LSD, foi uma das primeiras artistas a experimentá-lo.

    "Timothy exerceu uma grande influência sobre mim. Só fiz uma única viagem de ácido e até hoje estou tentando voltar dela. Enfrentar a realidade não tem sido fácil", comenta, rindo. "Quando nos conhecemos, perguntei a ele o que pretendia fazer com o LSD. Timothy me disse que queria influenciar as artes."

    Pioneira também na utilização dos sintetizadores eletrônicos, convenceu o inventor Robert Moog a lhe emprestar um protótipo, antes mesmo de esse instrumento se tornar viável, comercialmente. Com ele realizou experimentos sonoros com a própria voz.

    Por ser uma artista que, ao criar e gravar sua música, não levava em conta se ela seria ou não rentável, encarou dissabores. "Quando era mais jovem, eu lançava um álbum muito segura de que aquela era a melhor coisa a ser feita naquele momento. No entanto, como eu não conseguia me conectar com o mercado, acabava ficando desiludida, frustrada", afirma.

    Depois de passar mais de uma década sem gravar, em 2000 lançou pelo selo europeu de jazz ECM o hoje cultuado "An Acrobat's Heart", álbum que reativou o interesse por sua música. Acompanhada por um quarteto de cordas, além de seu piano, ela interpreta nesse disco uma coleção de canções dissonantes e minimalistas, com certa nostalgia.

    Algumas dessas canções estarão, segundo ela, no repertório de suas apresentações no Sesc Pompeia. "Vou levar comigo um percussionista (Roger Turner), porque sei que as pessoas gostam muito de ritmos aí no Brasil", avisa. "Vamos tocar peças de vários dos meus álbuns. Talvez as pessoas conheçam algumas delas, mas vou rearranjá-las. Será um programa bem diversificado".

    Ao saber que, em São Paulo, deve encontrar uma plateia com muitos jovens interessados em free jazz e música de vanguarda, ela se entusiasma. E conta que se surpreendeu com as reações dos fãs que conheceu após uma apresentação que fez há pouco, em Portugal.

    "Tive uma experiência maravilhosa na cidade do Porto. Foi incrível ver aqueles jovens, com os olhos brilhando, me dizerem que adoram minha música", relembra. "O free jazz e a música que eu faço têm tudo a ver com liberdade - os jovens buscam a liberdade".

    *

    ANNETTE PEACOCK NO JAZZ NA FÁBRICA
    QUANDO sáb. (26), às 21h, e dom. (27), às 19h
    ONDE Sesc Pompeia (r. Clélia, 93, tel. 11-3871-7700)
    QUANTO R$ 15 a R$ 50; 12 anos

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