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    Filme da Lava Jato é caricatura mal feita da PF, diz presidente de federação

    WÁLTER NUNES
    DE SÃO PAULO

    30/08/2017 10h05

    O presidente da Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais), entidade que representa todas as categorias da Polícia Federal, Luís Antônio Boudens, fez duras críticas ao filme "Polícia Federal - A lei é para todos", inspirado na Operação Lava Jato. Segundo Boudens, a obra exagerou no "propagandismo" dos delegados e traçou uma imagem caricata dos policiais federais.

    Em mensagem enviada pela sua assessoria, Boudens diz que assistiu à pré-estreia do filme, em Curitiba, e saiu decepcionado do cinema.

    "A permissão poética e a ficção retiraram a essência da Polícia Federal, ignorando aqueles que, de fato, descobriram a autoria e a materialidade de um dos maiores crimes de corrupção no país, dando lugar a uma mensagem corporativa", afirmou.

    A Fenapef defende uma política de valorização do trabalho dos agentes, escrivães, papiloscopistas e peritos da Polícia Federal em comparação com os delegados, que são representados pela ADPF (Associação dos Delegados da PF). Uma das críticas da Fenapef é a de que os delegados se apropriam dos trabalhos dos outros profissionais da PF durante a divulgação das operações.

    Boudens aponta erros factuais no roteiro. "No decorrer do filme há cenas de delegados realizando prisões (como a fantasiosa cena de prisão do doleiro Alberto Youssef) e coletando provas em campo durante cumprimento de mandado de busca e apreensão (como no sítio de Paulo Roberto Costa)", exemplificou. "A sociedade precisa entender que todo o processo investigativo é realizado em conjunto e não exclusivamente por um cargo.

    Os demais cargos da Polícia Federal estão na ponta do processo investigativo e jamais poderiam ter sido esquecidos ou relegados a uma penumbra ante sua importante atuação profissional, reforçando um estereótipo nada saudável para a segurança pública", disse Boudens. "A obra desenrolou-se entre a distorção da realidade do dia a dia das investigações e os propósitos políticos, apesar da tentativa da direção do filme, e até dos personagens, em dizer o contrário".

    A conclusão do presidente da Fenapef é de que o filme não retratou com precisão a realidade da operação policial. "O roteiro do filme enaltece o trabalho da Polícia Federal e as virtudes inquestionáveis da Operação Lava Jato, mas retrata cenas muito distantes do mundo real", diz.

    Para o sindicalista, a suposta distorção é resultado do apoio dado pela direção da PF à produção do filme, que foi "retribuído com um exagerado "propagandismo" ao cargo de delegado, alijando peritos e agentes federais, por exemplo, de situações cruciais durante a operação".

    Boudens termina sua análise dizendo que espera que, caso haja sequência do filme, os produtores "deixem de lado narrativas inverossímeis e tratem a Polícia Federal com mais realismo e menos caricatura".

    DELEGADO CONTESTA CRÍTICA

    O presidente da ADPF (Associação dos Delegados da Polícia Federal), Carlos Eduardo Sobral, rebateu as críticas do presidente da Fenapef. "O filme retratou o dia a dia do trabalho da Polícia Federal", disse. "A coordenação e as decisões das investigações cabem aos delegados da Polícia Federal. Os procuradores participam de alguns processos decisórios ao longo do trabalho. Já a atuação do juiz, na fase de investigação, é deferir ou não algumas medidas que dependem de autorização judicial, como é o caso de prisões e buscas", disse Sobral.

    "Na fase da ação penal, após a denúncia, o protagonismo passa ao juiz que conduzirá o processo até conclusão, com o julgamento em primeira instância. Com os recursos, a condução passa para as mãos dos Tribunais. Todos são importantes para o resultado final da investigação e da ação penal, mas cada autoridade, agente e instituição tem o seu papel bem definido. Essa divisão de funções foi muito bem apresentada na obra."

    DIREÇÃO

    Polícia Federal - A Lei É para Todos
    Carlos Graieb e Ana Maria Santos
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    "O noticiário trata do 'pós-fato', quando as coisas já aconteceram. Quisemos mostrar o 'pré-fato', como foi feita a investigação", diz o diretor Marcelo Antunez. "O único jeito de contar isso é falar dos investigadores. Muitos detalhes do que aconteceu as pessoas não conhecem."

    Como o foco é na investigação, não no processo, o papel do juiz Sergio Moro é lateral.

    Antunez diz que "carregou um pouquinho nas tintas", pois o filme "não é um documentário", mas que se manteve fiel aos principais fatos.

    O diretor disse ter conversado com mais de 40 pessoas durante a preparação, entre delegados, procuradores da República, Moro e até diretores da Petrobras. Ele e o elenco também tiveram conversas com alguns dos principais personagens da Lava Jato.

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