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Irina Björklund e Kevin Kilner em cena do filme 'Entrelinhas' |
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Ilustrada
Saturday, 04-May-2024 10:41:34 -03CRÍTICA
Filme 'Entrelinhas' soa como fanfic ao tratar de relações amorosas
ANDREA ORMOND
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA31/08/2017 01h00
ENTRELINHAS (ruim)
(The Unattainable Story)
DIREÇÃO Emilia Ferreira
PRODUÇÃO EUA, 2017, 14 anos
ELENCO Irina Björklund, Edoardo Ballerini, Harry Hamlin Mais
QUANDO estreia em 31/8
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"Entrelinhas" (2017) é o primeiro longa-metragem de Emilia Ferreira, diretora brasileira radicada nos Estados Unidos. "A Fronteira" (2003) possuía origem semelhante: rodado fora do Brasil, com diretor brasileiro (Roberto Carminati) e baixo orçamento. No entanto, "A Fronteira" adotou uma temática latina, ao acompanhar famílias que emigravam para os Estados Unidos.
Emilia Ferreira já está do outro lado do muro. O que era sonho para os personagens de "A Fronteira" é algo concreto para Emilia, que, justamente por isso, não fez de "Entrelinhas" um manifesto sobre a brasilidade. Ao contrário, trata de um tema universal: as relações entre homem e mulher.
A dramaturga Jacqueline (Irina Björklund) envolve-se com Peter (Kevin Kilner), David (Harry Hamlin) e Skene (Edoardo Ballerini). Os atores são estrangeiros e toda a trama é falada em inglês. Peter é o boa-praça; David, o artista; Skene, o diretor da peça de teatro escrita por Jacqueline. Atenção para a peça: narra os desencontros entre Gustav Mahler e Alma, sua esposa, que abdicou do próprio talento em prol do compositor.
Tudo o que se vê são exercícios ególatras de Jacqueline e a óbvia insistência do filme em deixar claro que se trata de uma criatura manipuladora. No entanto, é a manipuladora em "processo de descoberta pessoal".
"Entrelinhas" não surte o efeito desejado. Existem limitações claras. Alguém fala sobre a vida "ser um jogo de xadrez" e outra cascata de obviedades. David na prisão é edulcorado, gourmetizado. A melhor amiga aparece quase sempre acompanhada por um husky siberiano, ouvindo Jacqueline e retrucando com blagues irônicas.
Até mesmo o ótimo mote de Mahler e Alma se perde. Alma teria aberto mão do futuro artístico por ser mulher e Jacqueline tenta o oposto: encarna a mulher alfa, devoradora de quem lhe atravessar o caminho. Acontece que Alma é uma referência icônica do século XX, jamais uma pobre moça ao léu. Faltam as sombras, as contradições que elevariam "Entrelinhas" e o distanciariam da fanfic.
Gay Walley escreveu o roteiro com Guinevere Turner e adaptou o próprio livro, "The Erotic Fire of the Unattainable", em que o filme é inspirado. Haveria muito o que burilar, para transpor a literatura ao cinema. Esteticamente, "Entrelinhas" está mais próximo de um programa de televisão.
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