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    Espetáculo adentra o mundo imaginário de uma mente perturbada

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    02/09/2017 02h10

    Ricardo Lopes/Divulgação
    Peça "Terra dos Outros Felizes - O Jogo dos Amigos Imaginários", com texto de Michelle Ferreira e direção de Vanessa Guillen
    "Terra dos Outros Felizes - O Jogo dos Amigos Imaginários", com texto de Michelle Ferreira

    Silvia descobre ter uma doença fatal, e o baque de realidade leva a personagem a um caminho oposto: ela cria um mundo próprio, etéreo, em que a imaginação se mistura aos fatos reais de sua vida.

    É nesse limiar entre a realidade e a ficção que transita o espetáculo "Terra dos Outros Felizes - O Jogo dos Amigos Imaginários".

    O texto com tintas de absurdo da dramaturga Michelle Ferreira ganhou encenação de Vanessa Guillen, em montagem que estreia neste sábado (2) em São Paulo.

    A trama acompanha o encontro de Silvia (papel de Deborah Graça) com um grupo de amigos na casa de praia de sua família. O cheiro de mofo do imóvel, a chuva lá fora que deixa todos enclausurados são por vezes uma ligação com a realidade. Noutras, um reflexo da mente perturbada da protagonista.

    O texto de Michelle, expoente da nova dramaturgia paulistana (são dela peças como "Os Adultos Estão na Sala" e "Tem Alguém que nos Odeia"), pontua a as falas corriqueiras do grupo de amigos com momentos nebulosos, em que não fica claro se o que se vê é uma situação real ou o fruto da imaginação de Silvia.

    "O espetáculo sobrepõe várias camadas de realidade", afirma Vanessa. "E a gente deixa tudo [a realidade e a ficção] muito aberto à interpretação do público."

    "Nunca dá para saber se ela está imaginando ou não. Sempre fica essa dúvida", completa Deborah.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Deborah Graça (esq.) e Katia Calsavara durante ensaio da peça "Terra dos Outros Felizes - O Jogo dos Amigos Imaginários"
    Deborah Graça (esq.) e Katia Calsavara em "Terra dos Outros Felizes - O Jogo dos Amigos Imaginários"

    Silvia parece recriar, como num teatro, momentos da própria vida. Por vezes, os amigos se assemelham a atores interpretando figuras do círculo social da personagem. Chegam a se desculpar quando não atingem o tom de fulano ou falam algo que ciclano "nunca diria".

    "Ela está cercada de muita gente, mas também está sozinha", comenta a atriz Katia Calsavara. "É muita solidão em meio de tanto amigo."

    O cenário de Márcia Pires também fica na fronteira entre real e imaginário. O jardim do quintal da casa é representada por um papel amassado, que tem um aspecto de terra, mas também de cimento. Há várias transições de luz e clima, ainda que a história se passe em apenas um dia.

    GESTAÇÃO

    A temporada de "Terra dos Outros Felizes" integra o projeto de ocupação Berçário Teatral, que teve início neste semestre. A ideia é criar um espaço de gestação de peças e movimentar, com apresentações de espetáculos, o Teatro dos Arcos, no bairro paulistano da Bela Vista. O local antes era usado apenas como espaço de ensaio e escritório.

    *

    TERRA DOS OUTROS FELIZES - O JOGO DOS AMIGOS IMAGINÁRIOS
    QUANDO sáb. e dom., às 19h; até 24/9
    ONDE Teatro dos Arcos, r. Jandaia, 218, tel. (11) 3101-8589
    QUANTO grátis (ingressos distribuídos uma hora antes da sessão)
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos

    Edição impressa

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