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    Depois de 'Azul É a Cor Mais Quente', Kechiche não esquenta Veneza

    BRUNO GHETTI
    COLABORAÇÃO PARA FOLHA, EM VENEZA

    08/09/2017 02h10

    Divulgação
    OF Croaácia
    Cena do filme 'Mektoub, my Love: Canto Uno', exibido no Festival de Veneza

    Na reta final, o Festival de Veneza esperava que o tunisiano Abdellatif Kechiche talvez pudesse definir a disputada competição. Mas "Mektoub, my Love: Canto Uno", exibido na quinta (7), não causou forte impacto –diferentemente de seu longa anterior, "Azul É a Cor Mais Quente", que arrebatou a Palma de Ouro em Cannes, em 2013.

    Recebido entre aplausos sem fôlego e vaias idem, o filme é uma celebração da juventude e das paixões de verão. É sobre um rapaz de família tunisiana que passa alguns dias no balneário francês onde mora a mãe. Ele e os amigos tomam sol, dançam, bebem e flertam. E têm conversas totalmente corriqueiras; "Mektoub" não busca a gravidade.

    O filme exalta a vida: é sobre a beleza e a energia da juventude. "Quis fazer uma obra impressionista, livre", disse Kechiche. "Não gosto de explicar meus filmes."

    Mais que narrar uma história, o diretor se dedica a criar uma atmosfera estival, solar e excitante. Mostra corpos bronzeados, sobretudo de mulheres, que não param de mexer as ancas e os cabelos molhados de mar. Houve quem visse sexismo ali.

    "O filme não tem nada de machista", defendeu-se. "Tem, aliás, mulheres fortes e livres. [As imagens são] A impressão que eu tenho de um corpo, da beleza, que quis comunicar."

    A trama se passa nos anos 1990, em uma França em que jovens se divertem sem fantasmas sexuais ou raciais. "Olhando ao passado, podemos entender o hoje. Antes do início deste século, vivíamos de forma mais harmoniosa. Para entender um começo de século, é bom olhar para o fim do anterior", ponderou o diretor. O filme flui com vigor por duas horas, até o cineasta encontrar uma poderosa metáfora sobre a perpetuação da vida, em uma bela cena com animais.

    Se Kechiche terminasse o longa ali, talvez levasse um Leão de Ouro para casa –mas ele prolonga o filme por mais uma hora, com uma interminável sequência em uma danceteria que só reitera tudo o que já tinha sido mostrado até ali. Desperdiça toda a afeição que os personagens haviam conquistado até então, tornando o filme enfadonho: sua vacuidade rouba o protagonismo. A sensação em Veneza foi de frustração.

    FORA DA DISPUTA

    Exibido fora de competição, o documentário "Cuba and the Cameraman", da Netflix, traz um registro da vida na ilha nas últimas cinco décadas. O jornalista americano Jon Alpert foi a Cuba várias vezes desde os anos 1970, revisitando as mesmas pessoas. Testemunhou como suas vidas mudavam (para pior) com o passar dos anos, sobretudo após o fim da URSS.

    "Há 30 anos, vi que tinha um material a que poucos tinham acesso. Então só ali comecei a pensar em um documentário", conta Alpert. Sua câmera encontra personagens adoráveis, e é um golpe duro testemunhar a deterioração de suas vidas a partir dos anos 1980. Mas o diretor evita o discurso político.

    O longa vale por instantes reveladores da intimidade de Fidel Castro (1926-2016), que surge carismático, seguro, até doce. Por fim, é uma homenagem à simpatia cubana: tanto a do povo como a de seu maior líder.

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