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    Devendra Banhart, que toca em SP, lamenta crise venezuelana: 'Doloroso'

    AMANDA NOGUEIRA
    DE SÃO PAULO

    12/09/2017 02h05

    Do lobby de um hotel decadente na periferia de Tóquio ecoam canções que descrevem seus raros hóspedes. As 13 faixas de "Ape in Pink Marble", nono álbum de Devendra Banhart, 36, são emprestadas desse cenário imaginado para compor a turnê sul-americana, que chega a São Paulo nesta terça (12).

    A ambientação da narrativa não é mera ornamentação, mas alicerce das criações. Banhart o atribui aos ensinamentos de Michael Gira, um dos principais nomes que alavancaram o início de sua carreira –responsável por lançar "Oh Me Oh My", de 2002, pela gravadora Young God Records.

    "[Gira] sempre enfatizou essa importância no processo de criação de um álbum, de deixar as janelas abertas para capturar sons ao redor, deixar um microfone gravar os grilos cantando durante a noite", diz Banhart por e-mail à Folha. "Tudo empresta esse senso do lugar, essa textura do espaço".

    O senso de lugar, como Banhart define, se impregna também na sonoridade por meio de sintetizadores antigos e, principalmente, do koto, tradicional instrumento japonês de cordas dedilhadas.

    A tentativa de atingir uma estética que remetesse ao oriente não se sobrepõe às influências da música latina –particularmente da brasileira. O músico faz de "Theme for a Taiwanese Woman" um encontro entre samba e bossa nova.

    Mas não é nesta faixa que seu amigo de longa data e parceiro musical Rodrigo Amarante toca –o brasileiro mostra sua guitarra em "Fancy Man" e "Jon Lends a Hand".

    O álbum vem sendo descrito como uma progressão natural e mais melancólica de "Mala", de 2013. Em comparação ao antecessor, é mais moderado, contido, talvez por se livrar das amarras estilísticas que o músico nutriu no passado, em partes para ser levado a sério apesar da fama de excêntrico.

    Devendra diz que sua arte –seja a música, a escrita ou a pintura– não tem propósito catártico, mas inevitavelmente dá vazão a certo luto. "Arte é uma prática, uma atividade contínua, fazemos porque devemos. O que impulsiona esse desejo de desenhar linhas em uma parede de caverna? Não sei, mas todas as experiências, das delirantemente alegres às doloridas de luto, acabam instruindo a obra."

    O álbum é dedicado a amigos e ao seu pai biológico, Gary Banhart, mortos nos últimos anos. Em entrevistas anteriores, o músico disse que teria composto faixas como "Mourner's Dance", uma das mais melancólicas do repertório, mesmo em outras circunstâncias. Agora, porém, o fez com a propriedade da dor.

    VENEZUELA
    Uma das lembranças de infância que Devendra costuma contar é a de um dia em que foi impedido de ir ao colégio. Pela TV, acompanhou a espiral de acontecimentos de um malsucedido golpe de Estado na Venezuela em 1992. Hugo Chávez, figura que liderou a ofensiva, somente seria eleito presidente seis anos depois.

    O americano lamentou a situação política atual da Venezuela, terra natal de sua mãe e país onde viveu até a adolescência. Para ele, o avanço da ditadura de Nicolás Maduro "é totalmente doloroso".

    "Enquanto observamos impotentes, famílias estão sendo dilaceradas, pessoas estão morrendo de fome e sendo assassinadas", diz Devendra.

    "A situação só piora, o que é difícil de imaginar já que está em um nível apocalíptico", diz ele, também um notório crítico do governo antecessor. "Neste momento, eu apenas rezo por alguma estabilidade, por direitos humanos básicos, por comida e remédios para tantos seres inocentes."

    Ouça no spotify

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    DEVENDRA BANHART
    QUANDO ter. (12), às 21h, em São Paulo, qua. (13), às 21h, em Curitiba, e qui. (14), às 22h, em Porto Alegre
    ONDE Tropical Butatã (Av. Valdemar Ferreira, 93, São Paulo), Ópera de Arame (r. João Gava, 874, Curitiba), Bar Opinião (r. José do Patrocínio, 834, Porto Alegre)
    QUANTO de R$ 80 a R$ 300, via ticketload.com, eventbrite.com.br e blueticket.com.br
    CLASSIFICAÇÃO 18 anos

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