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    'A cadeia não saiu de mim', afirma diretor brasileiro Aly Muritiba

    FERNANDA MENA
    DE SÃO PAULO

    15/09/2017 02h00

    Reprodução/Facebook
    O cineasta brasileiro Aly Muritiba
    O cineasta brasileiro Aly Muritiba

    "Saí da cadeia, mas a cadeia não saiu de mim."

    A frase do diretor Aly Muritiba explica o motor por trás de sua Trilogia do Cárcere bem como o título do documentário que a encerra.

    "A Gente" –e não Agente– retrata o cotidiano de uma equipe de agentes penitenciários num presídio superlotado no Paraná.

    Recém-formado em história pela USP, recém-chegado à cidade de Curitiba, desempregado e com filho pequeno, o baiano Muritiba viu-se obrigado a prestar o primeiro concurso público que surgisse. E virou agente penitenciário da equipe que retrata.

    "Entrei ali com todos os preconceitos que se tem em relação a esta profissão. Achava que batiam, torturavam, roubavam", admite. "Mas encontrei caras que, como eu, eram jovens, tinham formação acadêmica e, por falta de oportunidade, viraram agentes penitenciários."

    Nos sete anos em que exerceu a atividade, Muritiba estudou cinema e fez os dois curtas que inauguraram sua trilogia. "Fábrica" (2011), uma ficção sobre os familiares dos detentos, e "Pátio" (2013), premiado no Festival É Tudo Verdade, que retrata a rotina dos presos de maneira tanto inusitada quanto poética.

    Já "A Gente" se vale da intimidade total do diretor com o universo. O documentário promove uma imersão antropológica na cadeia e na complexa variedade de funções que essas figuras exercem.

    "Já estava afastado do sistema quando resolvi fazer o filme", conta. "Pedi reintegração e voltei a trabalhar para filmar 'a gente', e não 'eles'."

    Assim, o diretor dispensou a equipe para se tornar um agente com uma câmera na mão. "O número de funcionários era tão restrito que às vezes eu tinha de deixar a câmera para algemar um preso", lembra ele, um dos roteiristas de nova série da Globo baseada no livro "Carcereiros", do médico e colunista da Folha Drauzio Varella.

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    O resultado é um cinema direto que expõe a situação de miséria. São cerca de 20 funcionários para quase mil presos. As revistas aos familiares são vexatórias. Não há médico, apenas uma enfermeira. Faltam até algemas para receber ou deixar circular os detentos, o que gera uma tensão permanente.

    O personagem que se destaca, Jeferson Walkiu, inspetor dentro do presídio, pastor evangélico fora dali, lidera a equipe na rotina frenética.

    "Temos um sistema penal punitivista, que não ressocializa. E Walkiu, como religioso, atua na lógica da salvação e do perdão, enquanto, na esfera profissional, só tem espaço para punir."

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