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    CRÍTICA

    Gucci abre temporada com estudo sobre opressão e resistência

    PEDRO DINIZ
    ENVIADO ESPECIAL A MILÃO

    20/09/2017 17h19

    Júlio César, Otávio Augusto, Zeus, Netuno. Reunidos em uma sala esfumaçada, figuras da mitologia e da política greco-romana faziam par com os convidados sentados em uma espécie de cova fashionista, na qual jazia também uma múmia.

    Foi com esse caldeirão de referências que o estilista Alessandro Michele abriu, nesta quarta-feira (20), a temporada de verão 2019 da semana de moda de Milão.

    Entre o misticismo e a opressão, a melhor coleção do estilista desde seu início na Gucci, em 2015, é ao mesmo tempo um conto sobre a escalada de conservadorismo que define a geopolítica e uma resposta a ela.

    Segundo Michele, esta é uma coleção de "resistência", que celebra as singularidades de cada um e se revolta contra o "engessamento" das coisas, dos sentimentos e das atitudes. O nome da coleção, "o ato de criação como um ato de resistência", é emblema desse discurso bordado em paetês, jeans e lurex.

    Toucas cravejadas de cristais, referência ao acessório que as mulheres usavam na Idade Média, e mordaças estilizadas compuseram looks com referências à indumentária monástica, militar e à noite dos anos 1980.

    A década é o ponto de fuga da coleção. Grafismos tingidos de cor fluorescente preencheram calças e casacos cortados em alfaiataria, com variações de tamanhos e proporções.

    O misto de conto de fadas e conto de horror também foi expresso nos desenhos de serpentes em posição de ataque, aplicados em casacões e joias enroladas pelos pescoços e pulsos dos modelos, e também de personagens infantis, como uma Branca de Neve a ponto de morder a maçã envenenada, enquanto símbolos da religiosidade asteca e egípcia se fundiram nas roupas.

    Nessa miscelânea aparentemente desconexa, a veia urbana ainda se contrapôs ao classicismo dos vestidos lânguidos e da alfaiataria, dualidade que se transformou em marca de Michele e na fórmula mais copiada da moda de hoje.

    GUCCI (ótimo)

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