Kevin Mazur/Getty Images for Live Nation | ||
Lady Gaga em show da turnê "Joanne", no Citi Field, em Nova York, em agosto de 2017 |
-
-
Ilustrada
Monday, 29-Apr-2024 16:02:23 -03CRÍTICA
Na turnê que o Brasil não viu, Lady Gaga vive momento 'Faustão'
RODRIGO SALEM
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES22/09/2017 02h00
"Me chamem de Joanne", pede Lady Gaga às 17 mil pessoas que lotaram o The Forum, clássica casa de shows em Los Angeles.
Ela nem precisaria pedir. Grande parte dos "monstrinhos", como são conhecidos os fãs da popstar, já sabe quem é a nova personagem.
Joanne batiza o tour que Gaga deveria ter trazido ao Brasil, em apresentação única no dia 15, no Rock in Rio.
A personagem é encarnada pela cantora desde o ano passado, quando excursionou tocando em alguns bares menores, interpretando esse papel, uma mescla de Dolly Parton e Madonna.
Mas é assim que ela aparece para cantar "Diamond Heart" e "A-Yo", de chapéu de caubói coberto por purpurina e um casaco de franjas que esconde um maiô roxo –e, depois de guitarra na mão.
A fantasia já cai na terceira música, quando entra o hit "Poker Face".
Country rock ou pop? A dualidade permeia e define toda a apresentação da diva durante os sete atos de uma apresentação de duas horas.
É uma Lady Gaga que luta contra o monstro que criou, uma artista que bebeu do niilismo do excesso pop no início de carreira, mas que sabe cantar. E muito.
Não é uma tarefa fácil.
Tanto que existe uma preocupação de minimizar os efeitos especiais em torno da "Joanne Tour" e de mesclar sucessos como "Telephone" e "Alejandro" (numa versão reduzida) com canções novas de menor impacto visual, como "John Wayne".
Os palcos são simples na sua mecânica de plataformas móveis e ganham mais impacto quando são utilizados para levar a cantora durante "Applause" para a plataforma menor, que fica no outro extremo da arena, apenas com seu piano transparente (e luzes internas, claro).
Nesse momento, solitária e mais perto dos fãs, Lady Gaga parece transcender seu papel de popstar.
Em "Come to Mama", ela discursa sobre o movimento LGBT e diversidade, dedicando a música ao produtor Mark Ronson.
Ainda ao piano para "The Edge of Glory", a cantora entra no modo Faustão: dedica a canção à família presente, lembra que o pai faz aniversário e presta uma homenagem a um amigo que perdeu a mulher.
Funciona; a apresentação ganha humanidade e despojamento, qualidades perdidas em shows pop.
Sim, Lady Gaga toca seus hits, se veste de baronesa do sangue em "Bloody Mary", emula Ziggy Stardust em "Just Dance" e evoca a "prostituta dentro de mim" em "Born This Way" (quando retorna ao palco principal). No entanto parece menos confortável no papel de líder de coreografia.
É possível pensar que a cantora ainda enxugaria alguns excessos para a aparição no evento carioca, deixando a apresentação mais orgânica e natural.
Nessa nova turnê, Gaga prova que deseja amadurecer como outras popstars não conseguiram.
"Joanne" é claramente uma transição. Se ela virá ao Brasil, ainda não se sabe. Mas, quando Gaga pisar no país, possivelmente terá se tornado uma artista bem diferente da atual.
LADY GAGA - JOANNE TOUR (bom)
Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br
Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.brPublicidade -