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    Rock in Rio 2017

    CRÍTICA

    Na turnê que o Brasil não viu, Lady Gaga vive momento 'Faustão'

    RODRIGO SALEM
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

    22/09/2017 02h00

    Kevin Mazur/Getty Images for Live Nation
    Lady Gaga em show da turnê "Joanne", no Citi Field, em Nova York, em agosto de 2017
    Lady Gaga em show da turnê "Joanne", no Citi Field, em Nova York, em agosto de 2017

    "Me chamem de Joanne", pede Lady Gaga às 17 mil pessoas que lotaram o The Forum, clássica casa de shows em Los Angeles.

    Ela nem precisaria pedir. Grande parte dos "monstrinhos", como são conhecidos os fãs da popstar, já sabe quem é a nova personagem.

    Joanne batiza o tour que Gaga deveria ter trazido ao Brasil, em apresentação única no dia 15, no Rock in Rio.

    A personagem é encarnada pela cantora desde o ano passado, quando excursionou tocando em alguns bares menores, interpretando esse papel, uma mescla de Dolly Parton e Madonna.

    Mas é assim que ela aparece para cantar "Diamond Heart" e "A-Yo", de chapéu de caubói coberto por purpurina e um casaco de franjas que esconde um maiô roxo –e, depois de guitarra na mão.

    A fantasia já cai na terceira música, quando entra o hit "Poker Face".

    Country rock ou pop? A dualidade permeia e define toda a apresentação da diva durante os sete atos de uma apresentação de duas horas.

    É uma Lady Gaga que luta contra o monstro que criou, uma artista que bebeu do niilismo do excesso pop no início de carreira, mas que sabe cantar. E muito.

    Não é uma tarefa fácil.

    Tanto que existe uma preocupação de minimizar os efeitos especiais em torno da "Joanne Tour" e de mesclar sucessos como "Telephone" e "Alejandro" (numa versão reduzida) com canções novas de menor impacto visual, como "John Wayne".

    Os palcos são simples na sua mecânica de plataformas móveis e ganham mais impacto quando são utilizados para levar a cantora durante "Applause" para a plataforma menor, que fica no outro extremo da arena, apenas com seu piano transparente (e luzes internas, claro).

    Nesse momento, solitária e mais perto dos fãs, Lady Gaga parece transcender seu papel de popstar.

    Em "Come to Mama", ela discursa sobre o movimento LGBT e diversidade, dedicando a música ao produtor Mark Ronson.

    Ainda ao piano para "The Edge of Glory", a cantora entra no modo Faustão: dedica a canção à família presente, lembra que o pai faz aniversário e presta uma homenagem a um amigo que perdeu a mulher.

    Funciona; a apresentação ganha humanidade e despojamento, qualidades perdidas em shows pop.

    Sim, Lady Gaga toca seus hits, se veste de baronesa do sangue em "Bloody Mary", emula Ziggy Stardust em "Just Dance" e evoca a "prostituta dentro de mim" em "Born This Way" (quando retorna ao palco principal). No entanto parece menos confortável no papel de líder de coreografia.

    É possível pensar que a cantora ainda enxugaria alguns excessos para a aparição no evento carioca, deixando a apresentação mais orgânica e natural.

    Nessa nova turnê, Gaga prova que deseja amadurecer como outras popstars não conseguiram.

    "Joanne" é claramente uma transição. Se ela virá ao Brasil, ainda não se sabe. Mas, quando Gaga pisar no país, possivelmente terá se tornado uma artista bem diferente da atual.

    LADY GAGA - JOANNE TOUR (bom)

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