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    Moda

    Estilistas apostam em estampas de bicho e alusão aos trópicos em Milão

    PEDRO DINIZ
    ENVIADO ESPECIAL A MILÃO

    25/09/2017 02h01

    Andreas Solaro/AFP
    Modelos desfilam com criações do estilista Roberto Cavalli
    Modelos desfilam com criações do estilista Roberto Cavalli

    Abriram as portas do zoológico em Milão (Itália). Entre rugidos e picadas da fauna fashionista, grifes de peso do luxo mundial apostaram nas estampas de bicho e no estilo selvagem dos anos 1990 e 2000 nesta temporada de desfiles, cuja estética deve continuar nos próximos dias em Paris.

    Prada, Fendi, Bottega Veneta, Salvatore Ferragamo, Versace, Tod's, Roberto Cavalli. Marcas indissociáveis do selo "made in Italy" cortaram panos de leopardo, onça, vaca e cobra na savana de referências de suas coleções.

    Essa moda reeditada, que ensaiou os primeiros passos no ano passado, não preconiza um estilo carnavalesco, mas, sim, a interseção da bicharada com silhuetas clássicas, cartela pastel e correntes de estilo passadas, do "ladylike" ao grunge.

    Maior tradução desse pensamento é a Prada, que, sem querer, botou os bichos para correr na coleção inspirada nas super-heroínas dos quadrinhos e na onda "new wave" dos anos 1990.

    Detalhes de estampas de onça e leopardo, usadas como complemento ao peso do preto e das tachinhas da década estudada, apareceram nas golas dos casacos, nas blusas cavadas e nos vestidos de cores açucaradas.

    O namoro ensaiado entre ideais de feminismo e passarela capitaneado por Miuccia Prada lapidou essa cartilha. Trabalhos de oito mulheres quadrinistas estamparam sua coleção recheada de garotas dos quadrinhos, inclusive Miss Fury, primeira super-heroína de HQ desenhada por uma mulher, a artista June Tarpé Mills (1918-1988).

    Entre trechos de "I Put a Spell on You", na voz de Nina Simone, e "I Hate Myself & I Want to Die", do Nirvana, as modelos destrinchavam em looks as partes de HQs impressas nas paredes. A frase célebre da ativista e militante de direitos civis Angela Davis clamava pelo espaço e pelas roupas: "Irmã, você é bem-vinda nesta casa".

    Foi o teor militante que abriu espaço para essa onda selvagem que, ironicamente, no século passado era emblema de sensualidade e extravagância. Os estilistas parecem querer dar novo significado à pecha de cafona do visual animalesco.

    A tradicional e reconhecidamente elegante Tod's colocou um exército de garotas com bolsos e bolsas cobertas com uma camada de couro de cobra píton.

    Outra etiqueta das mais clássicas do calendário, a Bottega Venetta construiu com base nas pintas de leopardo a imagem de amazona moderna. Negras, asiáticas e caucasianas emolduraram o discurso de diversidade do estilista Tomas Maier com casacos e vestidos cortados com esmero, tingidos em um degradê de cores vibrantes e terrosas.

    Embora não tão vibrante quanto as pintas amarelas da Versace, que na reedição do legado do estilista Gianni Versace (1946-1997) colocou as oncinhas e as estampas similares à pele de crocodilo em leggings, jaquetas e vestidos de contornos oitentistas.

    Enquanto isso, a grife de Roberto Cavalli diluiu e ampliou as listras gráficas das onças, animal símbolo da estética da marca, a Salvatore Ferragamo mexeu em um ninho de cobras na segunda coleção de Fulvio Rigoni à frente do estilo.

    Considerada um ponto de virada na história de looks monocromáticos e peças tradicionais da etiqueta de Florença, esta coleção, de viés tropical, mostrou o contraste das peças de pele de píton verdadeiras misturadas a propostas de seda.

    A pele, tingida manualmente com cores fluorescentes e encerada com verniz, serviu de tecido para saias lápis e acessórios que, segundo um porta-voz da marca, foram criados para agradar a uma clientela jovem e, provavelmente, não filiada ao Peta.

    A organização fundada para proteger os direitos dos animais protestou no centro histórico de Milão, na quarta-feira (20), contra o uso de pele animal na produção de roupas. O barulho não chegou nem perto da boca de cena. Ainda que mais falsos do que verdadeiros, os bichos nunca estiveram tão à solta no guarda-roupa.

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