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    Mostra revive Inezita Barroso para além do programa 'Viola, Minha Viola'

    AMANDA NOGUEIRA
    ISABELLA MENON
    DE SÃO PAULO

    27/09/2017 02h00

    "Eita programa que eu gosto!", repetia Inezita Barroso a cada episódio do "Viola, Minha Viola", da TV Cultura.

    A afeição da cantora ao programa, que ela apresentou por quase quatro décadas até a sua morte, em 2015, era compartilhada por muitos telespectadores que fizeram dele a liderança entre as atrações dominicais da emissora voltadas a adultos.

    Por meio dele, Inezita concretizou uma trajetória de pesquisa, resgate e enaltecimento da música caipira.

    Essa e outras facetas —como as carreiras de atriz, radialista, professora e até mesmo cozinheira— serão mostradas ao público em exposição no Itaú Cultural a partir desta quarta (27).

    A Ocupação Inezita reúne peças de seu acervo pessoal, como fotos, documentos, prêmios, discos e compilados de recortes de jornais que a citavam, sobre os quais ela fazia anotações e correções.

    Paralelamente, por meio do programa Rumos, a instituição disponibilizará um site (inezita.com.br ) com gravações de 43 fitas de rolo recuperadas, digitalizadas e catalogadas. Os áudios, datados dos anos 1950 e 1960, registram ensaios, recitais, momentos em família e músicas da discoteca da artista.

    Folhapress
    Celebridades 10.07.2017 - Inezita Barroso em foto de 1952. (Foto: Folhapress)
    Inezita Barroso em foto de 1952

    Metódica e organizada, características aperfeiçoadas durante a graduação em biblioteconomia, Inezita guardava tudo em ordem cronológica, o que facilitou o trabalho de curadoria a cargo da equipe de música da instituição e do violeiro Paulo Freire.

    "Inezita é a pessoa mais relevante da cultura popular brasileira dos últimos 50 anos; muitos violeiros nasceram no programa dela", diz Freire.

    O "Viola, Minha Viola" foi palco para artistas como Luiz Gonzaga, Daniel, Sérgio Reis e Almir Sater, entre outros, mas a estrela sempre foi o instrumento que o nomeou.

    "Ela não detestava a guitarra ou a bateria, mas, como a música caipira não tinha esses instrumentos em sua origem, ela falava: 'Você pode ir a qualquer programa da televisão e tocar guitarra, bateria, teclado, contrabaixo; esse é o lugar da TV onde se pode tocar viola e sanfona'", lembra Aloisio Milani, produtor do programa desde 2005.

    JOVITA

    Inezita começou a tocar e cantar desde a infância, quando seu talento foi ao mesmo tempo notado e restringido por seus pais.

    De família tradicional paulistana, a jovem teve formação em música clássica, mas se apaixonou pela viola que ouvia nas redondezas da fazenda de seus pais. "Naquela época, o violão era coisa de vagabundo. A viola, então, era coisa de homem", diz Freire.

    Inezita só conquistaria a liberdade artística ao se casar com Adolfo Cabral Barroso, de uma família pernambucana que incentivava a arte.

    Mais que porta-voz da cultura caipira e do folclore brasileiros, a cantora seria precursora de uma geração de mulheres no sertanejo.

    "Em tudo que tinha a ver com inovação, ela estava envolvida", diz Andréia Schinasi, coordenadora da equipe de curadoria musical do Itaú Cultural. "Em uma época em que a mulher não podia ser artista, ter bancado isso é muito à frente do tempo".

    Em um episódio, Inezita foi convidada a interpretar no cinema a personagem Jovita, heroína do Piauí que se vestiu de homem para se alistar na guerra do Paraguai.

    "Ela se identificou com a personagem e resolveu fazer uma viagem de jipe até Belém do Pará", conta Schinasi. "À noite, ela parava no posto de gasolina, sacava a viola e tocava para os caminhoneiros".

    *

    DEPOIMENTOS

    CHITÃOZINHO E XORORÓ
    "O trabalho que ela fazia para conservar a essência da música sertaneja é nossa principal inspiração quando falamos em Inezita"

    DANIEL
    "Mulher incrível e artista à frente do seu tempo que influenciou gerações. Sou suspeito para falar, pois frequentei seu programa até pouco antes de ela nos deixar"

    PAULA FERNANDES
    "Inezita abriu as portas para as mulheres nesse meio que antigamente era 100% masculino. Ela lutou muito pela arte caipira e por seu legado"

    MARY (AS GALVÃO)
    "Ela sempre foi fiel com as pessoas que amava, e nós sabemos que ela nos amou muito. Ela estabeleceu que no seu programa só cantariam as pessoas que fizessem música caipira"

    MILIONÁRIO (ROMEU JANUÁRIO DE MATOS)
    "Para o artista ir ao programa dela, era uma honra; você ganhava credibilidade e visibilidade. Ela te deixava à vontade para mostrar seu trabalho"

    *

    OCUPAÇÃO INEZITA BARROSO
    QUANDO de 27/09 a 5/11; ter. a sex., das 9h às 20h; sáb., dom. e feriados, das 11h às 20h
    ONDE Itaú Cultura - av. Paulista, 149; tel. (11) 2168-1777
    QUANTO entrada gratuita
    CLASSIFICAÇÃO livre

    Edição impressa

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