• Ilustrada

    Saturday, 18-May-2024 21:05:11 -03

    Semana de Paris faz homenagens a Pierre Bergé e ao legado da Dior

    PEDRO DINIZ
    DE SÃO PAULO

    27/09/2017 02h07

    A moda instituiu que é hora de revirar o baú, reverenciar quem já partiu e fazer disso uma festa. Os mantras dos primeiros grandes desfiles da semana de moda de Paris, a mais importante do circuito do hemisfério Norte, já mostram um reforço do revival do século 20 visto em Milão.

    Assim como fez Donatella Versace ao relembrar o estilo criado pelo irmão Gianni, a grife francesa Saint Laurent, cujo desfile encerrou a terça-feira (26), homenageou o empresário Pierre Bergé, morto neste mês, que foi marido e parceiro comercial de Yves Saint Laurent (1936-2008).

    Defensor da cultura e dos símbolos franceses, Bergé ganhou um desfile à altura no maior cartão-postal parisiense. Marcada para as 20h, exatamente quando a torre Eiffel começa a piscar suas luzes, a apresentação foi emoldurada pelo monumento, cujo brilho fez par com a exuberância dos "looks" desfilados na praça de Varsóvia, local escolhido para a festa.

    O estilista belga Anthony Vaccarello destrinchou pedaços do legado de Saint Laurent, a exemplo dos conjuntos de alfaiataria com lapela acetinada, numa referência ao smoking feminino criado pelo patriarca.

    Também usou a silhueta safári, outro gol do designer, que na coleção recebeu aplicações de pedrarias e ombros proeminentes, obsessões de Vaccarello e tendência nas noites de Paris.

    Em tom de luto, modelos entraram no bloco final vestidas com roupas pretas, cortadas como trajes de festa com comprimento minúsculo e volumes exagerados, criados tanto para noites de dança quanto de gala.

    Nas cadeiras dos convidados, placas negras grafadas com uma frase célebre de Bergé sobre sua conturbada parceria com Saint Laurent traduziam a confusão bem organizada das referências usadas na passarela: "Pode ser esse amor louco. O amor de dois loucos".

    As marcas andam mesmo mais sentimentais. A Christian Dior, outra grife da programação desta segunda, cavou nos arquivos imagens que remetessem à época do estilista Marc Bohan à frente do estilo da etiqueta, entre 1960 e o final dos 1980.

    Diretora criativa da marca, Maria Grazia Chiuri, desatou as mãos que a prendiam em paletas de cores sóbrias e variações de uma mesma silhueta para jogar estampas divertidas, como a de um dinossauro, e cores baseadas no trabalho da artista visual e escritora Niki de Saint Phalle (1930-2002).

    O resultado da mistura de quadriculados P&B, linhas das roupas esportivas e mensagem engajada impressa em camiseta —neste caso, "Por que não houve grandes mulheres artistas?"—, é mais um passo fora da caixa na Dior.

    E é mais ainda um aceno generoso a uma clientela jovem que não espera do luxo um sem-fim de novidades, mas histórias bem embaladas em verniz contemporâneo.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024