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    Atriz Andréa Beltrão vê ecos da era Trump em 'Antígona'

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    06/10/2017 02h00

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Andrea Beltrão reestreia 'Antígona' em São Paulo
    Andrea Beltrão reestreia 'Antígona' em São Paulo

    Quando montou "Antígona" em 2016, espetáculo que celebrava seus 40 anos de carreira, Andréa Beltrão, 54, buscava sair da zona de conforto. "Queria uma grande complicação e consegui", diz à Folha. "Uma coisa que ou me enterrasse ou me desse asas novas. Por enquanto estou voando por aí com elas."

    Andréa faz novo pouso do monólogo, o primeiro de sua carreira, a partir desta sexta (6), em mais uma temporada paulistana da montagem.

    Dirigida por Amir Haddad, ela se alterna entre uma explanação, quase numa conversa com o público, e uma interpretação da tragédia de Sófocles, em tradução de Millôr Fernandes, morto em 2012.

    Antes de adentrar o drama de Antígona, a atriz faz um passeio pelo histórico da mitologia grega. "Tem uma imensa quantidade de nomes que atravessa a história. Os mitos eram as novelas dos gregos, eles conheciam todos aqueles personagens", conta.

    Num exercício de tentar resumir a história dos Labdácidas, a dinastia da qual faz parte a protagonista, lembrou-se de Bob Dylan no clipe de "Subterranean Homesick Blues", em que o músico mostra cartazes com palavras da música, acompanhando a canção.

    Dali nasceu o cenário da montagem: um painel com folhas expondo os prenomes dos integrantes da família, como numa árvore genealógica.

    É uma apresentação mais didática da história e que busca uma transição fluida entre a narração a interpretação –contida– dos personagens. "As melhores vezes é quando eu consigo fazer mais natural possível."

    O PORQUÊ

    Já fazia 20 anos que Andréa namorava a tragédia de Antígona, jovem que confronta o tirano governante Creonte para conseguir enterrar o próprio irmão. Mas, quando decidiu montá-lo, era porque falava "o que eu queria dizer, mas não sabia explicar o porquê". "Quando iniciei o processo, a situação política não estava assim, não tinha impeachment, não tinha [o presidente americano Donald] Trump."

    Andréa lembrava de início das histórias como a da doméstica Marli Pereira Soares, que em 1979 denunciou policiais pelo assassinato do irmão em Belford Roxo (RJ), de Clarice Herzog (viúva do jornalista Vladmir Herzog, morto na ditadura) e da estilista Zuzu Angel (cujo filho Stuart Angel Jones desapareceu durante o mesmo regime militar).

    Mas a peça acabou por reverberar o cenário político atual, afirma. "Hoje Trump é o maior Creonte que a gente tem hoje. O [presidente Michel] Temer é fichinha perto dele, é um sub-Creonte."

    Segundo a atriz, durante a temporada da peça, que passou por cidades como Rio, São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte e Porto Alegre, é grande a reação do público.

    "Sempre que o Creonte fala: 'Não vou cair na frente de uma mulher', as pessoas reagem. No Poeirinha [Rio], um espectador gritou um 'fora, Temer'. Eu fiquei na minha, não podia dar muita pista, mas achei legal ele poder dizer o que ele queria. Qualquer opinião é bem-vinda."

    *

    ANTÍGONA
    QUANDO sex. e sáb., às 21h; dom., às 17h; até 5/11
    ONDE Teatro Raul Cortez, r. Dr. Plínio Barreto, 285, tel. (11) 3254-1631
    QUANTO R$ 80
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos

    Edição impressa

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