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    Filmes que retratam Antônio Callado e Henfil provocam reflexões sobre o país

    GUILHERME GENESTRETI
    ENVIADO ESPECIAL AO RIO

    08/10/2017 17h06

    Rosane Hatab/ Divulgação
    Carlos Gregório é Antonio Callado no documentário "Callado, Vestígios", de Emilia Silveira
    Carlos Gregório é Antonio Callado no documentário "Callado, Vestígios", de Emilia Silveira

    Na programação brasileira do Festival do Rio, duas documentaristas recorrem a figuras histórias da cultura nacional para trazer inevitáveis reflexões sobre o país de hoje. "Callado", de Emília Silveira, marca o centenário do escritor e jornalista Antônio Callado, e "Henfil", de Angela Zoé, recupera o trabalho do cartunista e ativista mineiro.

    Enquanto o primeiro deixa entrever uma visão pessimista do escritor sobre o futuro do Brasil, fadado a nunca deixar seus ciclos de infortúnios, o segundo tem poucas dúvidas sobre de que lado estaria o iconoclasta Henfil no Fla-Flu político dos dias atuais.

    "Callado" se apoia num vasto arquivo em fotos e vídeos do autor niteroiense, que foi colunista da Folha. Contempla sua passagem como jornalista pelo "Correio da Manhã", sua cobertura da Segunda Guerra pela britânica BBC e os bastidores da célebre reportagem "O Esqueleto na Lagoa Verde", que o levou ao interior do país.

    De suas obras literárias, como "Bar Don Juan" (1976) e "Reflexos do Baile" (1976), o filme destaca frases que têm hoje aguda ressonância num país que, como ele descreve em "Quarup" (1967), tem o coração repleto de saúvas.

    O filme também destaca a última entrevista concedida por ele, poucos dias antes de morrer, em 1997, aos jornalistas Matinas Suzuki e Maurício Stycer, e publicada na Folha.

    Já "Henfil" destaca como o humor ácido destilado nas tirinhas do cartunista era não só uma postura de resistência à ditadura militar como o reflexo do instinto de sobrevivência de um sujeito assolado pela hemofilia.

    Seus colegas no "Pasquim", Jaguar, Ziraldo e Sergio Cabral contam a gênese de personagens como os fradinhos, o cangaceiro Zeferino, a Graúna e o Cabôco Mamadô, que cuidava do Cemitério dos Mortos-Vivos, onde Henfil (1944-1988) enterrou todos aqueles a quem ele acusava de colaborar com os militares, caso da cantora Elis Regina.

    Pasmos com a ousadia do cartunista, eles viram até Fernanda Montenegro e Clarice Lispector serem enterradas sem dó.

    Paralelamente, a diretora escala um grupo de jovens animadores, vários deles sem conhecimentos prévios da obra de Henfil, para criarem uma animação com os personagens.

    O jornalista GUILHERME GENESTRETI viaja a convite do Festival do Rio

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