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    'Sem informação você é manipulado', diz ator Marco Pigossi

    GUILHERME GENESTRETI
    ENVIADO ESPECIAL AO RIO

    09/10/2017 15h25

    Reprodução/Instagram
    Marco Pigossi estreia nos cinemas com dois filmes, 'O Nome da Morte' e a 'A Última Chance
    Marco Pigossi estreia nos cinemas com dois filmes, 'O Nome da Morte' e a 'A Última Chance

    No ar como o protagonista da atual novela das 9, Marco Pigossi diz que sempre busca no cinema a referência para seus papéis da TV. Para construir o caminhoneiro Zeca de "A Força do Querer", por exemplo, conta que achou a pista em filmes italianos.

    "A linguagem não tem nada a ver, mas ele é um sujeito machista, durão, que não sabe lidar com emoções. E isso no cinema italiano é muito presente", diz à Folha.

    Depois de participar de dez novelas, o ator paulistano estreia nos cinemas com dois filmes, "O Nome da Morte" e a "A Última Chance", ambos na programação do Festival do Rio. E os dois com um tom bem diferente daquele que ele costuma exibir na TV.

    "O cinema pode ser firme, fazer uma denúncia, trazer um questionamento. Procurei justamente papéis que talvez eu não achasse na televisão", diz o ator de 28 anos.

    No violento "O Nome da Morte", de Henrique Goldman, Pigossi faz um pistoleiro cristão. Baseado no livro-reportagem homônimo do jornalista Kléster Cavalcanti, o longa que compete pelo prêmio Redentor conta a história de Julio Santana, matador de aluguel que afirma ter assassinado 492 pessoas no interior do Brasil.

    O nome de cada uma das vítimas –alvos encomendados por caudilhos locais, desafetos e até maridos transtornados -são meticulosamente anotados por Julio num caderno com capa do Pato Donald.

    Diretor de "Jean Charles" (2009), Goldman recua ao fim da adolescência de Santana, garoto da zona rural criado à beira do rio Tocantins. O tio Cícero (André Mattos), já metido na pistolagem, é quem vê potencial no garoto bom de mira e o leva para executar serviços nos rincões do país.

    "A falta de informação te faz uma pessoa manipulável, e esse é o momento de se falar disso", afirma Pigossi. "Meu grande desafio foi entender que, para criar o personagem, eu tinha que limpá-lo, porque é a cultura que traz a independência do pensamento."

    No livro de Cavalcanti, o pistoleiro narra como matou sindicalistas, militantes e ajudou a prender José Genoino durante a guerrilha do Araguaia. No filme, que não situa a época em que se passa, os alvos políticos são resumidos num dos personagens, um líder da luta por terras.

    Católico, e depois convertido a alguma denominação evangélica, Julio mata porque crê que se as pessoas nascem por obra de Deus, a morte delas também está nos desígnios divinos.

    Fora da competição da mostra, Pigossi também está em "A Última Chance", filme dirigido por Paulo Thiago (de "Policarpo Quaresma"), que estreia na sexta (13) na mostra carioca.

    Aqui ele também está no papel de um sujeito real; no caso, Fábio Leão, suburbano carioca que foi campeão de muay thai ao mesmo tempo que gerente de boca de fumo na favela e um dos chefes do Comando Vermelho em Bangu.

    "Ele buscava no esporte uma regeneração, mas toda hora era jogado de volta para o tráfico, que era um universo que achava encantador", diz o ator.

    O jornalista GUILHERME GENESTRETI viajou a convite do Festival do Rio

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