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    CRÍTICA

    Cinebiografia de artista erótico cobre 50 anos de ativismo gay

    TONY GOES
    ENVIADO ESPECIAL AO RIO

    11/10/2017 02h03

    Divulgação
    O ator Pekka Strang em cena do filme 'Tom of Finland'
    O ator Pekka Strang em cena do filme 'Tom of Finland'

    TOM OF FINLAND (bom)
    DIREÇÃO Dome Karukoski
    ELENCO Jakob Oftebro, Pekka Strang e Troy T. Scott
    QUANDO nesta quarta (11), às 18h, no Museu da República; sáb. (14), às 21h15, no Roxy

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    Imagine que Carlos Zéfiro (1925-1992), que se notabilizou por suas histórias em quadrinhos eróticas, fosse alçado ao panteão dos grandes artistas brasileiros. Mais, até: que ele ganhasse uma coleção de selos postais ilustrada por algumas de suas obras.

    Vá além. Imagine que Zéfiro desenhasse apenas figuras e cenas de cunho homoerótico, algumas francamente pornográficas. E, mesmo assim, merecesse uma cinebiografia que fosse indicada pelo Brasil para representar o país na corrida pelo Oscar de filme em língua estrangeira.

    Tudo isto aconteceu na Finlândia, que escolheu "Tom of Finland" para tentar uma vaga na disputa da Academia de Hollywood.

    O artista retratado, nascido Touko Laaksonen (1920-1991), era dono de um traço imediatamente reconhecível. Por décadas, seus desenhos em preto e branco de marmanjos com músculos hipertrofiados e pênis gigantescos fizeram sucesso no submundo gay.

    Só no final da vida, já estabelecido em Los Angeles, ele teve algum reconhecimento do "mainstream" artístico. Hoje seus originais são leiloados a peso de ouro, e suas obras são publicadas em luxuosos livros de capa dura.

    "Tom of Finland", o filme, começa em plena Segunda Guerra Mundial, com o jovem Touko lutando contra os nazistas. Mas a pegação já corria solta no front, com oficiais e recrutas se confraternizando entre uma batalha e outra.

    O pós-Guerra se revelou, de certa forma, ainda mais difícil para ele. Morando com a irmã em Helsinque, Touko trabalhava de dia como ilustrador para uma revista feminina. À noite, tentava vender desenhos eróticos nas boates frequentadas por homossexuais e visitadas pela polícia.

    Os entreveros com a lei (não só na Finlândia, mas também na Dinamarca e na Alemanha, bem menos liberais do que hoje) e a dificuldade para comercializar sua arte fizeram com que Touko se voltasse para o mercado americano, onde um editor o rebatizou de "Tom". Foi nos EUA que ele se tornou quase o artista oficial da cada vez mais visível comunidade gay.

    O longa de Dome Karukoski, em exibição no Festival do Rio, cobre quase meio século de ativismo LGBT de um ponto de vista único: o de um artista que, vindo de um país periférico, alcançou fama mundial. Amores, Aids, conquista de direitos –não há etapa que o roteiro não cubra.

    A escuridão e o frio nórdicos aos poucos dão lugar ao sol e à excitação de Los Angeles, numa metáfora visual da saída do armário. E o final celebra a vida e a sexualidade –que era o que, no fundo, Tom of Finland pretendia com seus desenhos.

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