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    CRÍTICA

    Animação sobre experiências fora do corpo usa bem clichês

    ANDREA ORMOND
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    12/10/2017 01h00

    Divulgação
    Cena da animação 'Garoto Fantasma', de Jean-Loup Felicioli e Alain Gagnol
    Cena da animação 'Garoto Fantasma', de Jean-Loup Felicioli e Alain Gagnol

    GAROTO FANTASMA (muito bom)
    (PHANTOM BOY)
    DIREÇÃO Jean-Loup Felicioli, Alain Gagnol
    ELENCO Edouard Baer, Jean-Pierre Marielle, Audrey Tautou
    PRODUÇÃO França/Bélgica, 2015; classificação dez anos
    QUANDO estreia nesta quinta (12)
    Veja salas e horários de exibição

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    Nos anos 1970 e 1980 não era raro encontrar, nas bancas de jornais do Brasil, revistas sobre "experiências fora do corpo". O fenômeno, que começou a ser amplamente estudado nos anos 1960 e tornou-se conhecido como "viagem astral", nada mais é do que a manifestação do consciente distante de seu limite físico.

    Teria a espécie humana capacidade de flanar além da matéria? Essa é uma pergunta que intriga (e assusta) quem dela se aproxime.

    "Garoto Fantasma", animação franco-belga de Alain Gagnol e Jean Loup Felicioli, utiliza de forma satisfatória diversos clichês da literatura e do cinema policial para contar a história de Léo, um menino de 11 anos que, preso em um hospital, desenvolveu a habilidade de perambular pela cidade de Nova York.

    Atravessa paredes, veículos em movimento, cascos de navios. Ajuda outras pessoas a encontrarem o caminho de volta para o próprio corpo.

    Os clichês surgem quando a cidade é ameaçada pelo vilão com o rosto deformado (parece um quadro de Piet Mondrian), operando um sinistro vírus de computador.

    Só quem poderá detê-lo é a jornalista Mary, mocinha de ares pós-modernos, e o tenente Alex, fracassado corporativo que tem a chance de se redimir. Levariam uma surra do bandido e sua trupe, caso o garoto Léo e seus superpoderes também não entrassem em cena.

    Adultos mal humorados podem achar a narrativa esquemática. Mas, aos poucos, descobrimos em "Garoto Fantasma" boas referências: até o "Bada Bing", clube de strip-tease da série "Os Sopranos" é homenageado.

    Curioso que Tony Soprano, chamado apenas de Tony, apareça em um arremedo de caracterização tão óbvia quanto divertida. O Central Park, a canção "Dream a Little Dream of Me", ajudam a preencher o encanto por trás do déjà-vu ostensivo.

    É importante agradar adultos em "Garoto Fantasma", pois crianças normalmente ficarão com um pouco de medo daquelas situações de almas fora dos corpos na animação.

    O principal defeito do roteiro é não se definir entre ciência, espiritismo ou fábula de super-herói. Elaborasse um pouquinho melhor as explicações, fornecesse premissas de modo menos ligeiro, aliviaria tanto os pais quanto os filhos.

    Cabe ao espectador, além de desfrutar dos cenários bonitos e das pegadinhas da cultura pop inseridas na obra, construir um edifício particular de justificativas, que nem um exemplar da revista "Planeta" de 1978 é capaz de fornecer.

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