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    Tudo que Trump sabe fazer é destruir, diz Salman Rushdie em Frankfurt

    MAURÍCIO MEIRELES
    ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT

    12/10/2017 15h01

    Frank May/Associated Press
    O escritor Salman Rushdie lança seu novo livro, "The Golden House", na Feira de Frankfurt
    O escritor Salman Rushdie lança seu novo livro, "The Golden House", na Feira de Frankfurt

    O encontro com Salman Rushdie, na Feira do Livro de Frankfurt, nesta quinta (12), no espaço da revista alemã "Der Spiegel", foi marcado por críticas a Donald Trump.

    O romancista, um dos mais aclamados do mundo, lança na Alemanha seu último romance, "The Golden House" ("a casa dourada"), que começa com a eleição de Obama e termina com a eleição de Donald Trump.

    No livro, o presidente americano é The Joker —palavra que pode significar tanto o coringa, em um jogo de baralho, quanto "piadista".

    "Tudo que Trump sabe fazer é destruir coisas. Alianças, amizades, casamentos. Ao mesmo tempo, foi um fracasso em criar qualquer legislação. E temos sorte de ele ser tão incompetente", disse Rushdie, quando questionado sobre o anúncio dos EUA de que deixarão a Unesco em dezembro, acusando a instituição de ter viés anti-Israel.

    No novo romance, Rushdie conta a história de uma família de indianos que, fugindo do terrorismo, chega aos Estados Unidos e assume uma nova identidade. A chegada deles coincide com a posse de Obama. Ao fim, o "Joker" vira presidente dos EUA.

    O escritor contou que o livro começou a ser escrito muito antes da eleição de Trump, mas que o romance já previa o futuro —antes mesmo de o próprio autor se dar conta.

    "Muitos autores concordam: há momentos em que a obra é mais inteligente, e tem mais entendimento, do que o próprio escritor. Eu não sabia o que ia acontecer, mas o livro sabia. Até o fim da eleição, eu esperava outro resultado", recorda.

    O romancista descreveu uma cena do livro em que um taxista sikh fala a um personagem que pretende votar em Trump. Ao ser indagado sobre o motivo, o motorista responde: "Porque ele fala o que diz e está pouco se f..."

    "O livro sabia que era verdade."

    Rushdie começa o novo livro naquele momento de "grande otimismo", quando ainda era possível ter ter "um republicano e um democrata" em uma festa, sendo gentis um com o outro.

    "Com Obama, uma América liberal chegou ao poder. Era fácil acreditar que os EUA seriam assim para sempre. Mas não podíamos prever a força da reação [conservadora]."

    Questionado se ele tinha uma explicação para a eleição de Trump, Rushdie disse que, por um lado, foi uma "tempestade perfeita".

    "Todos nós subestimamos o ódio. Mas, do outro lado, houve uma enorme explosão de racismo. Havia eleitores brancos que achavam que a população branca poderia virar uma minoria étnica e perderia o controle do país. Além daqueles que sentiam muita raiva contra o sistema político, achavam-se ignorados."

    Ao fim, Rushdie ainda brincou: "Outro dia estava falando com o [escritor] Ian McEwan. Se nós tivéssemos escrito tudo que está acontecendo em um livro e levássemos a um editor, teriam dito para trabalharmos mais [porque era inverossímil]."

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