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Götz Kubitschek, editor da Antaios Verlag |
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Ilustrada
Saturday, 04-May-2024 10:13:46 -03Feira de Frankfurt tem tensão no ar com editoras de extrema direita
MAURÍCIO MEIRELES
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT14/10/2017 12h14
"Nós não gostamos de estrangeiros. Como você", diz Petrus Lahm, no estande da editora Leopold Stocker, na Feira do Livro de Frankfurt, em dado momento da entrevista à Folha na sexta (13). "Você é muçulmano?"
O tom da conversa é tenso e deixa o interlocutor incrédulo –será uma brincadeira? Depois, fica mais afável e oferece uma aguardente austríaca ao repórter.
A cena se desenrola no corredor G, no primeiro andar, pavilhão 3, na feira. Nesse espaço, ficam as editoras de extrema-direita alemãs, que já deram dor de cabeça ao maior evento literário do mundo –era correto aceitá-las?
A feira deu seu recado criando um ambiente esquisito. No mesmo lugar onde estão a Leopold Stocker e a Antaios Verlag, outra casa de mesmo perfil, espalham-se editoras no lado oposto do espectro político –em vez de proibir os extremistas, a feira quis deixá-los próximos de seu contraponto.
Em frente à Antaios, está a Fundação Amadeu-Antonio, fundação que publica livros sobre direitos humanos e contra o racismo. Ao lado da Leopold Stocker, fica a Casa de Educação Política Anne Frank –instituição que combate a discriminação e orienta vítimas de racismo.
Mais um passo e chega-se ao estande da Fundação Rosa Luxemburgo, filosofa marxista morta por milícias de direita na Alemanha. Lá, vendem-se livros dela e exemplares em capa dura de "O Capital", de Karl Marx.
Na tarde deste sábado (14), pessoas com roupas pretas acumulam-se em frente à Antaios para o lançamento de um livro. Desde a quarta (12), quando a Feira ainda nem havia sido aberta para o público, eles já reuniam mais pessoas do que Leopoldo Stocker e as editoras de esquerda.
Götz Kubitschek, editor da casa e celebridade na extrema-direita, circula por Frankfurt acompanhado de Björn Höcke, um dos líderes do Alternativa para a Alemanha (AfD), o principal partido de extrema-direita no país.
"Sempre que aparece alguém querendo defender o seu povo, dizem que é de extrema-direita. Não somos nazistas, somos tradicionalistas. Publicamos livros de autores que não teriam espaço em outras casas e é preciso trazer o debate para a sociedade", diz Lahm, da Leopold Stocker.
No centro do pensamento de Lahm, não está a "raça pura", como nos anos 1930 –ela fala em defesa da "cultura alemã". No país, ultranacionalistas tem defendido o chamado "pluralismo racial": outras raças não devem ser exterminadas, mas cada um deve ficar no seu quadrado.
"Não queremos que a cultura alemã desapareça. Tem muitos muçulmanos [na Alemanha]. Querem construir mesquitas em cada cidade. Mas aqui não é o Cairo", diz ele, depois acrescentando ter "muitos amigos" árabes, porque viveu em Tel Aviv.
"Mas as ideias têm que ser discutidas numa democracia. As pessoas [os autores] precisam ter direito de se expressar."
"O conceito de raça está fora de moda, por isso eles dizem isso", diz Daniel Geschke, da Fundação Amadeu-Antonio. "Para mim, é só uma roupagem moderna do fascismo."
A Alemanha vive uma ascensão inédita da extrema-direita. O partido de direita ultranacionalista Alternativa Para a Alemanha conquistou, na última eleição, mais de 90 cadeiras no parlamento do país.
"Tivemos longas discussões nas últimas semanas, porque nos pediram para proibi-los de estar na feira. Conversamos, mas não vamos fazê-lo, porque Frankfurt é uma feira sobre a liberdade de expressão. Mesmo que eu não goste do que eles dizem, tenho que permitir", diz o alemão Juergen Boos, presidente da Feira de Frankfurt.
De todo modo, a feira está atenta porque neste sábado (14), dia em que ela é aberta para o público em geral, há o perigo de confusão.
"Eles não falam mais em raça, e sim em cultura alemã. Mas é um ideal nazista mesmo assim", diz Martin Beck, da Fundação Rosa Luxemburgo.
Na quinta (12), alguns funcionários da Antaios foram provocar os da Casa de Educação Política Anne Frank -que distribui panfletos em uma campanha contra eles.
Mesmo assim, fora da Fundação Amadeu-Antonio, que deu o azar de ser vizinha de porta do extremistas, ninguém parece questionar a decisão da Feira.
"Somos pela liberdade de expressão, não queremos que eles sejam expulsos, mas não vamos ficar calados", diz Anna Bechttoff, da Casa Anne Frank.
Ela acha que a ideia de eles ficarem perto dos nacionalistas foi boa -se algo acontecer, eles esperam servir de contraponto.
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