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    Em novo livro de Dan Brown, origem da vida é mistério a ser desvendado

    MAURÍCIO MEIRELES
    ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT

    16/10/2017 02h02

    Tudo começou com uma música religiosa. Mas uma canção religiosa diferente. Em vez de pedir a ajuda de Deus, anjos, Jesus, a letra exaltava Charles Darwin e o evolucionismo, citando trechos de "A Origem das Espécies".

    A música era do irmão compositor do escritor Dan Brown, que a usou como inspiração para seu novo romance, "Origem". O autor estava na Feira do Livro de Frankfurt, que se encerrou neste domingo (15), para divulgá-lo.

    No novo livro, reencontramos Robert Langdon, professor de iconografia religiosa e simbologia da Universidade Harvard, e uma obsessão antiga de Brown: a religião, agora em conflito com a ciência.

    Langdon é convocado por Edmond Kirsch, um amigo bilionário e gênio da ciência que descobriu o segredo da origem do homem e qual o seu destino –o bom e velho de onde viemos e para onde vamos. A confusão toda é que a revelação desse segredo promete destruir as religiões.

    Cody O'Loughlin/The New York Times
    Corredor Vasariano é um dos lugares do livro "Inferno", do escritor norte-americano Dan Brown
    Autor americano Dan Brown, 53, em sua casa no Estado de Nova Hampshire, nos EUA

    No dia em que vai revelar a novidade para todo mundo, no museu Guggenheim de Bilbao, Kirsch é morto com um tiro. E cabe a Langdon revelar o segredo ao mundo –não sem antes resolver um quebra-cabeça para descobrir a senha que dá acesso a ele.

    Tudo muito Dan Brown: blasfêmias, mundo da arte, conspiração, mistério no estilo caça ao tesouro.

    Filho de um matemático, ele acha que as ciências um dia tornarão Deus desnecessário. Ao menos o Deus cristão.

    Não que não vá haver outras formas de espiritualidade, mas os deuses de hoje, diz, desaparecerão. Quem sabe, quando a inteligência artificial evoluir muito, os robôs não comecem a ter questões existenciais e tenhamos uma religião das máquinas?

    "Sempre falam de mim como um vilão ateu que odeia religião. Mas não é isso o que meus livros fazem", diz Brown, agnóstico, em entrevista à Folha. "Meus livros estão olhando para a área cinza entre ciência e religião."

    Acrescenta que seus livros são a forma que ele tem de trabalhar o conflito próprio entre fé e razão. Brown cantava no coral da igreja, que sua mãe dirigia. Começou a decepcionar-se quando ouviu falar em evolucionismo e foi perguntar ao padre se Adão e Eva não eram reais.

    "Ele disse: 'Bons meninos não fazem esse tipo de pergunta'. Comecei a me incomodar e acabei me afastando", diz Brown.

    Chegado a teorias da conspiração, a Folha questiona Brown sobre o mundo das notícias falsas –seu maior sucesso, "O Código da Vinci", que conta como Jesus teve filhos com Maria Madalena, não seria um caso de fake news aplicada à literatura? Ele vive algum dilema moral em criar tais teorias?

    "Para mim, a história do 'Código' fazia mais sentido do que aquela que aprendi na igreja. Mas era uma hipótese dentro de uma ficção. Fui acusado de tentar afastar as pessoas do catolicismo, de ter pacto com o demônio. Mas não pode ser um problema um ficcionista fazer seu trabalho."

    Origem
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    Mesmo com os conflitos que teve com o Vaticano, que condenou sua obra, Brown não odeia a religião, acha mesmo que ela faz bem para algumas pessoas –mas também a vê como algo dogmático e violento.

    E não acha que precisemos dela para nos comportarmos com moralidade. Mesmo que Deus não exista, não está liberado o oba-oba.

    "Todos temos um código moral intrínseco. Não preciso dos Dez Mandamentos para saber que não devo matar alguém. E mesmo que o mandamentos me dissessem pra fazê-lo, eu não faria", diz.

    *

    ORIGEM (ORIGIN)
    AUTOR Dan Brown
    TRADUTOR Alves Calado
    EDITORA Arqueiro
    QUANTO R$ 49,90 (432 págs.)

    Edição impressa

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