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    CRÍTICA

    Bienal de Istambul aborda expurgo na Turquia com críticas sutis

    FABIO CYPRIANO
    ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL

    17/10/2017 02h03

    "Para onde vamos a partir daqui?" A pergunta em formato de arco-íris, obra do artista suíço Ugo Rondinone, e instalada na fachada do centro cultural Mustafa Kemal, sintetiza questão essencial da 15ª Bienal de Istambul: o que se pode fazer em tempos obscuros?

    A peça foi vista na sexta edição da mostra, em 1999, na praça Taksim, que se tornou palco de manifestações da turbulenta Turquia. Agora, com dezenas de jornalistas presos e acadêmicos afastados, qual o sentido de uma bienal em um contexto onde falta liberdade de expressão?

    A dupla de artistas dinamarqueses Elmgreen & Dragset, curadora desta edição aberta até 12/11, optou por uma mostra que evita uma abordagem documental do momento, mas mostra de forma sutil dificuldades do presente, a começar pelo título.

    "a good neighbour"(um bom vizinho) não tem início com letra maiúscula, portanto pertence a uma frase maior, que pode ser imaginada pelo visitante. A convivência se torna uma questão central da mostra, como já ocorreu na 27ª Bienal de São Paulo, em 2006, "Como Viver Junto".

    Sem sede permanente, Istambul ocorre a cada edição em distintos espaços. Desta vez, são cinco instituições, como o museu Istanbul Modern, e obras instaladas em espaços públicos, como a de Rondinone. No total, foram selecionados 56 artistas de 32 países.

    Único brasileiro na Bienal, Victor Leguy é visto no Istanbul Modern com a instalação "Estruturas para Fronteiras Invisíveis", série iniciada em São Paulo sobre migração e que teve sequência na Turquia. Ele expõe objetos recolhidos com migrantes ou refugiados, a partir de trocas, quando ele próprio entrega aos participantes objetos pessoais. Surge uma ética de contato, e não mera apropriação.

    Muitas obras na mostra evitam, de fato, críticas contundentes, mas a sutileza às vezes é mais óbvia, como na instalação da turca Candeger Furtun, que exibe pernas claramente masculinas em posição sentada, como a indicar o machismo da sociedade turca.

    Menos militante que a Documenta de Kassel, Istambul privilegia a abordagem poética em uma sociedade marcada pelo autoritarismo.

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    15ª BIENAL DE ISTAMBUL (ótima)

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