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    OPINIÃO

    Mostra no Masp sobre sexualidade reforça que censura é inaceitável

    HEITOR MARTINS
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    17/10/2017 02h00

    Divulgação
    Obra 'Dia de Ano Novo' (1835) do artista japonês Keisai Eisen
    Obra 'Dia de Ano Novo' (1835) do artista japonês Keisai Eisen

    Sexo faz parte integral de nossas vidas; sem ele sequer existiríamos. Por isso mesmo, a sexualidade, nas suas mais diversas manifestações, tem desde sempre ocupado um lugar central no imaginário coletivo e na produção artística. "Histórias da Sexualidade", exposição que o Masp abrirá na próxima sexta-feira (20) para o público, traz amplo recorte dessa produção, com o objetivo de promover um debate sério, maduro e inclusivo, cruzando temporalidades, suportes e geografias.

    A presente exposição é fruto de intenso trabalho em torno das várias histórias que o Brasil tem para contar.

    Em 2016 inauguramos "Histórias da Infância", e nos últimos dois anos viemos trabalhando no atual projeto que foi antecedido por dois seminários internacionais sobre essas questões e que contou com a participação de especialistas e do público geral.

    A exposição também se insere no contexto mais amplo da programação do museu, que neste ano vem tratando do tema da sexualidade com mostras de Toulouse-Lautrec, Miguel Rio Branco, Teresinha Soares, Wanda Pimentel, Tunga, Guerrilla Girls, Pedro Correa de Araújo e Tracey Moffat.

    "Histórias da Sexualidade" inclui mais de 250 obras, reunidas em núcleos temáticos e não cronológicos, sendo muitas delas pinturas fundamentais de nosso acervo: Degas, Manet, Ingres, Poussin, Picasso, Gauguin, Renoir, Perugino, Suzanne Valadon, Victor Meirelles.

    Também traz trabalhos de artistas como Adriana Varejão, Ana Mendieta, Balthus, Egon Schiele, Francis Bacon, Jac Leirner, Mapplethorpe, Louise Bourgeois, Marta Minujin, Valie Export e Rego Monteiro.

    Divulgação
    Obra sem título do artista José Antonio da Silva, de 1971
    Obra sem título do artista José Antonio da Silva, de 1971

    Ainda que concebida em 2015, "Histórias da Sexualidade" não poderia ser mais atual. Episódios recentes, não só no Brasil mas em todo o mundo, trouxeram à tona –por meio de embates públicos, protestos e violentas manifestações nas mídias sociais– questões relativas à sexualidade e acerca dos limites entre direitos individuais e liberdade de expressão.

    Não existem verdades absolutas. As fronteiras do que é moralmente aceitável deslocam-se a toda hora e no decorrer da história.

    Esculturas clássicas, hoje consideradas símbolos da arte europeia, não poucas vezes tiveram seus sexos tapados por folhas de parreira e outros subterfúgios. Também os costumes variam entre culturas e civilizações.

    Em várias nações europeias, a nudez é exposta em parques, praias e lugares públicos; a poligamia é aceita em países islâmicos; prostituição é prática legal em algumas nações e condenada em outras; há países onde o aborto é livre e outros onde não é. Até mesmo o conceito de criança mudou ao longo do tempo, assim como sua especificação etária.

    O único dado absoluto, do qual não podemos abrir mão, é o respeito ao outro e o necessário diálogo.

    É preciso criar condições para que todos nós –cada um com suas crenças, práticas, orientações políticas e sexualidades– possamos viver de forma harmoniosa e escutando uns aos outros.

    Por isso mesmo, a radicalização, a intolerância, o cerceamento da liberdade de expressão, não devem e não podem ser aceitos. O Masp, um museu diverso, inclusivo e plural, tem por missão estabelecer, de maneira crítica e criativa, diálogos entre passado e presente, culturas e territórios, a partir das artes visuais.

    "Histórias de Sexualidade" objetiva justamente promover, por meio da arte, um debate consistente e sólido a partir de um número muito significativo de obras –arte pré-colombiana, asiática, africana, europeia e latino-americana, pinturas e esculturas, vídeos e fotografias, assim como documentos e publicações "" que fazem parte deste catálogo de nuanças e diferenças, mas também de tudo que nos une e nos faz, cada um à sua maneira, humanos.

    HEITOR MARTINS é diretor presidente do Masp e ex-presidente da Fundação Bienal

    *

    HISTÓRIAS DA SEXUALIDADE
    QUANDO de 20 de outubro de 2017 a 14 de fevereiro de 2018; ter. a dom. das 10h às 18h; qui., das 10h às 20h
    ONDE Masp (av. Paulista, 1.578); tel (11) 3149-5959
    QUANTO R$ 30 (inteira)
    CLASSIFICAÇÃO 18 anos

    Edição impressa

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