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    CRÍTICA

    Truques do capeta em 'A Comédia Divina' deixam todos felizes

    ANDREA ORMOND
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    19/10/2017 01h00

    Divulgação
    Monica Iozzi e Dalton Vigh em cena do filme 'A Comédia Divina
    Monica Iozzi e Dalton Vigh em cena do filme 'A Comédia Divina'

    A COMÉDIA DIVINA (bom)
    DIREÇÃO Toni Venturi
    ELENCO Murilo Rosa, Monica Iozzi, Dalton Vigh e Zezé Motta
    PRODUÇÃO Brasil, 2016, 14 anos
    QUANDO estreia nesta quinta (19)
    Veja salas e horários de exibição

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    O espectador que espera um manifesto social, por favor, esqueça "A Comédia Divina". Entregue-se ao bom cinema popular brasileiro. Cobice os prazeres da carne, a eterna luta do bem contra o mal, Deus e o Diabo na terra que não é de Glauber Rocha, mas sim o Brasil do terceiro milênio.

    O longa de Toni Venturi chega aos cinemas com a simples vontade de divertir. Como quem não quer nada, pelas beiradas, "A Comédia Divina" adapta o conto "A Igreja do Diabo", de Machado de Assis, e usa os sortilégios de Dante Alighieri para o título.

    Inconformado, o Demônio (Murilo Rosa) –sim, ele mesmo– decide fundar uma igreja, porque vem perdendo fiéis.

    Sopra a boa nova no ouvido da repórter Raquel (Monica Iozzi), uma bonitona carreirista, que assim vai desenrolando a trama. O ritmo é às vezes didático, mas, para surpresa do espectador, surgem momentos de glória politicamente incorreta.

    O debate de praticantes de religiões diferentes é um deles. Daria um esquete superior se filmado pela trupe do antigo "TV Pirata", mas ainda assim não compromete. Não há perversidades ou toneladas de sarcasmo. Tudo corre previsível.

    Deus é, finalmente, mulher e negra: encarnado por Zezé Motta, que não arrisca pirotecnias. O elenco vai na mesma linha, à exceção de Rosa, adorável na pele do tinhoso.

    Como sempre ocorre, compete ao demo ser uma criatura sedutora. É o ponto de explosão da narrativa ou, no mínimo, o responsável por boas risadas –lembrem-se de Regina Casé em "A Marvada Carne" (1986) de André Klotzel.

    De quebra, Venturi coloca um Mazzaropi acanhado, lá pelas tantas do filme, com uma rapidíssima citação. Mas o diabo é modernizado em "A Comédia Divina". Vira o profeta de novos pecados.

    Se Mazzaropi debatia o divórcio no "Jeca contra o Capeta" (1975), agora resta ao capiroto pregar a gula, o fim das barrigas tanquinho.

    Amantes de "Black Mirror", se quiserem procurar pelo em ovo, encontrarão ecos do episódio "White Bear". Mas é tão somente isso: um eco distante, uma lembrança fugidia, ao vermos as desgraças de Lucas (Thiago Mendonça), namorado de Raquel, na TV.

    Na prática, a alta voltagem da série cede terreno à enorme tranquilidade e, em "A Comédia Divina", todos saímos felizes do cinema.

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    Trailer

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