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    Masp abre 'Histórias da Sexualidade' com obras que vão além do nu artístico

    ISABELLA MENON
    DE SÃO PAULO

    19/10/2017 02h10

    Engana-se quem acredita que o Masp aproveita a onda de conservadorismo que vem resultando em críticas a exposições no Brasil para chamar atenção para a mostra que inaugura nesta quinta (19) e que dialoga sobre questões de sexualidade e gênero.

    Na verdade, a instituição colocou a mostra em sua programação em 2016, quando foi introduzido o projeto "Histórias da Sexualidade", que inclui além dela um ciclo de palestras sobre o tema.

    A exposição, que se distribui em três espaços do museu, "nunca foi tão necessária", afirma Lilia Schwarcz, curadora-adjunta de história do Masp, em entrevista à Folha."Uma série de direitos que julgávamos assegurados, na verdade, encontra-se em risco".

    Com conteúdo de violência, sexo explícito e linguagem imprópria, a exposição foi classificada para 18 anos.

    A faixa, autoatribuída pelo museu, impede que um menor, mesmo se acompanhado dos responsáveis, tenham acesso à mostra –o Ministério da Justiça não determina a classificação para instituições culturais, que devem fazê-lo por si, seguindo manual da pasta.

    A exposição conta com um batalhão de 150 nomes fortes para o ambiente artístico, que vão desde Renoir (1841-1919), a contemporâneos, como Adriana Varejão –o Masp escolheu sua "Cena de Interior 2", que foi alvo de críticas no "Queermuseu" em Porto Alegre, por, segundo manifestantes, fazer incitação à zoofilia.

    As mais de 300 obras estão divididas em nove temas, como "Corpos Nus", "Jogos Sexuais", "Religiosidades".

    Cibelle Cavalli Bastos e Alexandre da Cunha, por exemplo, estão na ala "Totemismo", dedicado à representação dos órgãos sexuais.

    A obra "Xannayonnx Portal" pode parecer só uma grande espuma rosa. Bastos explica que o trabalho foi construído sobre uma indagação: "E se todos tivéssemos uma genitália híbrida?".

    "A alma de uma pessoa não tem gênero, e a energia do masculino e feminino não garante o que a pessoa é."

    Para ela, um mundo ideal seria o do filme "Avatar" (2009), onde o alienígena "gruda o rabinho no cabelo [para reproduzir]. Seria incrível se fizéssemos isso".

    Do título ao uso de materiais, a obra de Cunha carrega um forte teor sexual."Morning", para ele, é uma expressão que remete à "sensualidade, do acordar para um ciclo".

    Além disso, ele utiliza a camiseta como fundo do quadro, em vez da tela habitual; a peça de roupa, diz, está ligada ao "comum uso sobre a pele e o corpo humano". Materiais que a sobrepõem formam relevos que fazem alusão "até mesmo à genitália", explica.

    QUEBRA DE PARADIGMAS

    Militante dos direitos LGBTs e de profissionais do sexo, Amara Moira participou do ciclo de seminários do projeto em 2016.

    Moira, que é travesti, diz ver o Masp como uma instituição "elitizada", "excessivamente pautada por padrões europeus, brancos, masculinos, colonizadores". "Para apreciá-la, a pessoa precisa ter intimidade com os valores e ideais que a produziram."

    Por isso, Amara Moira defende a introdução de temas como a sexualidade e gênero para dentro do museu.

    "A sociedade começa a se dar conta de que, se quer mesmo discutir sexualidade, pessoas trans e prostitutas devem obrigatoriamente participar do debate."

    *

    HISTÓRIAS DA SEXUALIDADE
    ONDE Masp - av. Paulista, 1.578; tel. (11) 3149-5959
    QUANDO abertura hoje, às 20h, para convidados; de 20/10 a 14/2; ter. a dom. das 10h às 18h; qui., das 10h às 20h
    QUANTO R$ 30 (inteira); 18 anos

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