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    CRÍTICA

    Envelhecimento e ressaca guiam o retorno do LCD Soundsystem

    ALEX KIDD
    DE SÃO PAULO

    20/10/2017 01h00

    Amy Harris/Invision/AP
    James Murphy, o vocalista do LCD Soundsystem, em show de 2016
    James Murphy, o vocalista do LCD Soundsystem, em show de 2016

    AMERICAN DREAM (muito bom)
    ARTISTA LCD SoundSystem
    GRAVADORA Sony Music
    QUANTO R$ 30, em média
    OUÇA "I Used To", "Call the Police" e "Change Yr Mind"

    *

    Em 2012, o LCD Soundsystem anunciou o final de suas atividades com pompa. O documentário "Shut Up and Play the Hits" acompanhou o vocalista James Murphy nas 48 horas que antecederam o último show da banda, realizado no Madison Square Garden, em Nova York (EUA).

    O tom era épico, messiânico e otimista. A trupe de Murphy, dona de hinos da geração hipster (quem nunca se jogou ao som de "Dance Yrself Clean"?), parecia satisfeita e consciente de que encerrava no auge.

    Cinco anos depois, todos se perguntaram: por que o grupo arriscaria seu legado com mais um disco?

    "American Dream", lançado em setembro, não fornece respostas fáceis. São 70 minutos que funcionam como uma grande ressaca.

    "Oh Baby" parece uma continuação direta de "Dream Baby Dream", clássico synthpunk do Suicide.

    "Você acordou de um sonho ruim", sussurra Murphy, hoje aos 47 anos, enquanto sintetizadores amortecem o cérebro.

    A dançante e efusiva "Tonite" traz ecos do velho LCD, mas a letra é sobre o constante medo da morte.

    O tema volta em "Black Screen", espécie de sessão de terapia em que Murphy comenta indiretamente o bloqueio criativo que teve quando dividiu o estúdio com David Bowie (1947-2016).

    Ele estava escalado para produzir "Blackstar" (2016), o derradeiro disco de Bowie, mas travou na hora H.

    A redenção é alcançada nas ótimas "Change Yr Mind" e "I Used To", decalques perfeitos da chamada "era Berlim" do camaleão do rock.

    Já a faixa "American Dream" se refere ao medo de envelhecer e fala sobre notar como o futuro não era assim tão promissor.

    A faixa-título resume o espírito moribundo do novo LCD Soundsystem: uma valsa melancólica, trilha perfeita para o baile de lamentação pós-Trump –frequentado por boa parte do público alvo da banda.

    Na épica "How do You Sleep?", por sinal, Murphy conclui: "Demos um passo pra frente e seis outros pra trás".

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