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    CRÍTICA

    Tom ultrasimpático anula virtudes de drama coreano 'O Advogado'

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    19/10/2017 19h38

    Divulgação
    Cena do filme 'O Advogado', de Yang Woo-seok
    Cena do filme 'O Advogado', de Yang Woo-seok

    O ADVOGADO (regular)
    (Byeon-ho-in)
    DIREÇÃO Yang Woo-seok
    PRODUÇÃO Coreia do Sul, 2013, 14 anos
    ELENCO Song Kang-Ho, Oh Dal-Su e Kwak Do-Won
    Veja salas e horários de exibição

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    A maior vantagem que a circulação global de conteúdos audiovisuais trouxe foi dar acesso a imagens e histórias vindas de todos os cantos numa escala inimaginável antes. A desvantagem foi confirmar que o uso de fórmulas basta para neutralizar qualidades.

    É o que se vê em "O Advogado", produção sul-coreana de 2013 e uma das maiores bilheterias de lá. Como de hábito em longas de estreantes, o diretor Yang Woo-seok adota a estratégia de fazer um filme ultrasimpático, a partir de um enredo capaz de comover do cãozinho à vovó.

    O personagem-título é inspirado na história real de Roh Moo-hyun, esforçado advogado tributarista que ganhou fama ao assumir a defesa num rumoroso caso de abuso de direitos humanos durante a ditadura militar na Coreia do Sul, nos anos 1980.

    No filme, ele, que mais tarde se tornou uma controversa personalidade da política sul-coreana, logo conquista simpatia com a introspecção cômica que Song Kang-ho, uma das faces mais conhecidas do cinema do país, injeta no papel.

    Graças ao ator, o personagem ganha um ritmo burlesco na base de improvisos e acasos que captam os efeitos do progresso econômico que levou a Coreia do Sul, ao lado de Taiwan, Singapura e Hong Kong, a ganhar o apelido "tigre asiático".

    A euforia material, no entanto, ocultava a natureza repressiva do regime e "O Advogado" recria com didatismo as conexões da abundância com a fantasia, a cumplicidade dos emergentes e autoritarismo, a moral torta, comum lá e cá, que aprova o "rouba, mas faz".

    O retrato mordaz da classe média que dá vigor à primeira metade é trocado, na segunda, pela tomada de consciência dos desmandos dos poderosos, durante o julgamento de um grupo de estudantes acusados de "comunismo".

    Aqui, o filme abusa de todos os tiques dos dramas de tribunal e tropeça no maniqueísmo ao opor o advogado, convertido em herói, a um militar arquimalvado.

    A mistura de gêneros e a mudança súbita de tons às vezes numa mesma cena, recursos que surpreendem e ajudaram a valorizar o cinema sul-coreano contemporâneo, desaparecem para dar lugar a uma esquemática defesa dos fracos e oprimidos contra vilões caricatos.

    Assim, a provocação cede lugar ao discurso e o filme fica igual a mil outros.

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