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    Com público cada vez mais variado, sertanejo se rende ao estilo urbano

    ROBERTO OLIVEIRA
    DE SÃO PAULO

    22/10/2017 02h00

    Avener Prado/Folhapress
    Maiara & Maraisa, dupla sertaneja formada por irmãs gêmeas, durante pocket show no Villa Country
    Maiara & Maraisa, dupla sertaneja formada por irmãs gêmeas, durante pocket show no Villa Country

    A culpa é de John Lennon.

    Em 8 de dezembro de 1980, a notícia do assassinato do ex-Beatle, em Nova York, levou o mundo às lágrimas e à perplexidade. Em São Paulo, numa casa no Brás, a TV permanecia ligada e, diante dela, o garotinho Carlos Alberto Machado Anhaia, então com 11 anos, descobria aquele que viria a ser um ídolo seu.

    Ainda naquele mês, às vésperas do Natal, Carlinhos, apelido de criança que continua valendo, surpreendeu o pai ao pedir-lhe a coleção completa dos Beatles. Acabou ganhando dez LPs.

    Ali, o garoto começou a formatar seu interesse pela música. Não parou mais. Cresceu ouvindo os mais distintos gêneros. Descabelou-se com o heavy metal, sacudiu-se ao som dos Jackson Five, sem abrir mão do pop rock e do punk. Da vitrola passou, aos poucos, para a guitarra.

    Esse balaio de ritmos ajudou a moldar sua futura profissão. Ao se apresentar numa noite dos anos 2000, assustou-se quando pediram a ele que tocasse um hit sertanejo. Não se fez de rogado: botou a turma do bar para dançar como se estivesse num bailão.

    Quatro vezes por semana, Carlinhos e outros oito integrantes à frente da Villa Country Band fazem exatamente isso: um bailão, numa área de 12 mil metros quadrados da casa, na Barra Funda, que empresta o nome à banda.

    BOTA, CHAPÉU E FIVELÃO

    Nos últimos 15 anos, a Villa Country vem assistindo à diversificação do seu público, que no começo era formado por estudantes do interior do "Brasilzão", acalentados num ambiente caipira, e hoje é bem mais urbano.

    Se antes o que embalava a plateia eram músicas da dupla Chrystian & Ralf e muito som country americano, hoje, explica Carlinhos, "o que leva o público ao delírio são canções de Jorge & Mateus, Henrique & Juliano e, é claro, a 'rainha sertaneja' Marília Mendonça"."Mas é rotativo, a coisa muda muito rápido."

    Tudo ali parece em constante transformação. "No começo, a gente se vestia de caubói para os shows", recorda-se. "O público também se sentia à vontade para vir de chapéu, botas e cintos com aquelas fivelonas, mas hoje nem 20% do pessoal se veste a caráter."

    Um dos sócios da casa, o empresário Marco Antônio Tobal Junior, 39, conta que a maioria dos clientes tem entre 25 e 35 anos, mas é comum a Villa receber casais mais "crescidinhos" e até clientes estrangeiros, surpresos em encontrar, em plena região central da maior cidade brasileira, um recinto que homenageia o western dos EUA.

    "A música sertaneja reforça algo que é nosso. Tem referência americana, é claro, mas o universo é genuíno. Isso aqui é Brasil", orgulha-se Carlinhos, que ama tanto os Beatles e os Rolling Stones quanto Chitãozinho & Xororó e Bruno & Marrone.

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