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    Revolução russa, 100

    Espetáculos apresentam olhar feminino sobre o grotesco

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    24/10/2017 02h00

    Guga Melgar/Divulgação
    O cantor Paulo Miklos posa para retrato.
    Carolyna Aguiar, Luisa Thiré e Priscilla Rozenbaum na peça 'A Guerra Não Tem Rosto de Mulher'

    Depois de cumprir seu "dever" de um casamento contra sua vontade, Kátierina Ivânovna, personagem do romance "Crime e Castigo", de Dostoiévski, desabafa: "Eu me casei chorando e soluçando, mas eu me casei".

    Na peça "K.I.", do russo Daniel Gink, Kátierina vira protagonista e fala da sua condição: integrante de uma família abastada, é abandonada e destituída de tudo por perseguir uma paixão que os familiares desaprovam.

    O monólogo, que ganha encenação brasileira pela Cia. da Memória, inaugura um projeto do grupo chamado Pentalogia do Feminino, com encenação de cinco peças que trazem olhares de mulheres.

    A Guerra Não Tem Rosto De Mulher
    Svetlana Aleksiévitch
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    O trabalho se une a outro espetáculo, também em cartaz em São Paulo, no retrato do olhar feminino sobre a violência e o grotesco: "A Guerra Não Tem Rosto de Mulher" é a versão teatral do livro de Svetlana Aleksiévitch, em que a escritora bielorrusa, Nobel de Literatura, reúne relatos de mulheres soviéticas que lutaram na Segunda Guerra.

    Marina Tenório, que dirige "K.I" ao lado de Ruy Cortez, diz que a ideia é rever a questão da mulher em diversos períodos e classes, ressaltando essas "personagens cindidas".

    "As mulheres pagavam um preço alto", continua Ondina Cais, que atua no monólogo. "Ela [Kátierina] quer justiça, liberdade, essa busca louca."

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    O cantor Paulo Miklos posa para retrato.
    Ondina Clais durante ensaio do espetáculo "K.I." na sede da Cia da Memória

    A "loucura" do discurso foi o que atraiu a atriz e produtora Carolyna Aguiar à obra de Aleksiévitch. Ela conheceu a bielorrussa na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) do ano passado e decidiu transformar o livro em peça.

    A atriz conta que chamou a sua atenção "a resiliência dessas mulheres", que trazem relatos como "a minha vontade de viver me salvou"; ou "antes tínhamos medo da morte, agora, da vida".

    Mas, para o diretor Marcello Bosschar, os relatos de guerra e morte são uma forma de "valorizar a vida".

    Ambas as montagens foram concebidas para diversos ambientes, de salas fechados a espaços públicos.

    "K.I." criou seu cenário a partir de uma sala da sede da Cia. da Memória, em São Paulo. Parede e porta são reproduzidas numa estrutura alocada no Sesc Ipiranga, e a atriz conduz o público num percurso pela unidade, remetendo à trajetória da protagonista.

    Já "Guerra" é despida de cenário e põe sua força no texto. As três atrizes (Carolyna, Luisa Thiré e Priscilla Rozenbaum) se alternam nas vozes dessas mulheres, todas de preto, tendo apenas auxílio da iluminação e da trilha sonora.

    *

    K.I.
    QUANDO sex., às 21h30, sáb., às 19h30, dom., às 18h30; até 5/11
    ONDE Sesc Ipiranga, r. Bom Pastor, 822, tel. (11) 3340-2000
    QUANTO R$ 6 a R$ 20
    CLASSIFICAÇÃO 16 anos

    *

    A GUERRA NÃO TEM ROSTO DE MULHER
    QUANDO sex. e sáb., às 21h, dom., às 18h; até 17/12
    ONDE Teatro Faap, r. Rua Alagoas, 903, tel. (11) 3662-7233/ 7234
    QUANTO R$ 50 a R$ 60
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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    Revolução russa, 100

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