• Ilustrada

    Monday, 06-May-2024 12:03:23 -03

    Rejeitada em 1879, opereta inédita de Chiquinha Gonzaga será encenada

    HELENA CARNIERI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CURITIBA

    28/10/2017 02h00

    Acervo Edinha Diniz/Divulgação
    A compositora Chiquinha Gonzaga (1847-1935)
    A compositora Chiquinha Gonzaga (1847-1935)

    Uma estranha coincidência liga o dramaturgo norueguês Henrik Ibsen (1828-1906) à compositora brasileira Francisca Gonzaga (1847-1935), a Chiquinha Gonzaga.

    Ambos escreveram, no início da carreira, obras que se passam na noite de São João. Fracassaram por causa delas e só depois conseguiram atingir grande reconhecimento.

    No caso de Chiquinha, era uma comédia romântica e leve, "Festa de São João", opereta com 24 cenas rejeitada em 1879, quando escreveu o libreto.

    Mesmo depois do sucesso e da afirmação como compositora e maestrina, atividade mal vista à época para mulheres, a obra ficou engavetada até o restauro da partitura, em 2014.

    A estreia nos palcos desta peça inédita da compositora acontece neste sábado (28) em Curitiba, no 3º Festival de Ópera do Paraná. O espetáculo terá três solistas, o ator Emílio Pitta como padre, coro de 27 crianças e 21 adultos, 14 bailarinos e uma pianista.

    O diretor Gehad Hajar, 34, restaurou o texto do libreto neste ano para que integrasse a programação do evento.

    "Estava uma bagunça, as páginas misturadas. Coloquei tudo no chão e fomos acertando a ordem lógica da narrativa", conta. Havia trechos em espanhol, e o conjunto todo estava fora de prosódia —quando as sílabas não coincidiam com a nota a ser cantada.

    Divulgação
    Libreto original da opereta 'Festa de São João', de 1879
    Libreto original da opereta 'Festa de São João', de 1879

    Para Hajar, restaurar e montar "Festa de São João" é uma "questão de justiça". Chiquinha indicou ainda na partitura entradas de tímpano, flautas, cordas, trompa e clarinete, mas não há registro desses trechos musicais na peça.

    O enredo começa com folguedos de São João num cenário campestre. De sorumbático e pesaroso, "ibseniano", apenas o espírito amargurado do mocinho, Luiz. Mas, assim que ele chega da cidade grande a essa vila no interior, encanta-se com a fé simples dos camponeses e se apaixona pela doce Rosinha, voltando a crer e apaziguando a alma.

    "Sofri muito meu anjo, oxalá que sempre ignores os martírios deste mundo tirano", diz Luiz a Rosinha. E ele acha sua resposta no ideal nativista: "As aldeias...nelas encontra-se a pureza e a verdade, símbolo de Deus!"

    Ao optar por um tema popular no lugar dos mitos, com música ritmada em que entra maxixe, sapateado andaluz e até tango, Chiquinha inovou.

    Para Hajar, poucos têm interesse nas óperas brasileiras —sua paixão— porque ela exige a "mão certa" para a música nacional. E cantores líricos teriam dificuldade com o próprio português, por estarem acostumados a cantar no alemão, francês ou italiano, as línguas mais costumeiras da ópera.

    *

    FESTA DE SÃO JOÃO
    QUANDO sáb. (28), às 20h
    ONDE Teatro Guairinha, r.15 De Novembro, 971, Curitiba
    QUANTO grátis

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024