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    Juiz veta peça com transsexual em papel de Jesus na Bahia

    JOÃO PEDRO PITOMBO
    DE SALVADOR

    28/10/2017 12h00

    A apresentação da peça "O Evangelho Segundo Jesus, rainha do Céu, que aconteceria nesta sexta-feira (27) em Salvador, foi cancelada após determinação judicial.

    O cancelamento foi determinado por liminar concedida pelo juiz Paulo Albiani Alves, da 12º Vara Cível de Salvador, sob pena de multa diária de R$ 1 milhão.

    A peça recria a história de Jesus como uma transexual. Autora do monólogo, a transsexual inglesa Jo Clifford escreveu a peça como forma de lidar com sua religião quando decidiu mudar de sexo em 2006, aos 56 anos.

    A apresentação seria encenada no Espaço Cultural da Barroquinha dentro da programação do Fiac (Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia).

    No seu despacho, o juiz Paulo Albiani Alves afirmou que a apresentação desrespeita o princípio constitucional de que "é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religioso se garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias".

    "Compreendo que não se pode tentar, assim, eliminar os símbolos/crenças religiosos mais tradicionais do povo, com narrativas debochadas e fantasiosas, como que lhe arrancando as raízes", disse o magistrado.

    A ação foi movida pelo advogado Alexandre Santa Rosa de Oliveira. Outra ação de teor semelhante havia sido movida pelo deputado estadual Pastor Sargento Isidório (Avante-BA), que tramitou na 11º Vara Cível, mas não chegou a ser julgada.

    "EM CIMA DA HORA"

    Acionada pela Justiça, a Fundação Gregório de Mattos, órgão da prefeitura de Salvador responsável pelo teatro, informou que o mandado com a decisão do juiz foi apresentado minutos antes do início da peça.

    "O mandado foi entregue em cima da hora, no fim da tarde. Não tivemos como recorrer", disse à Folha Fernando Guerreiro, diretor da Fundação Gregório de Mattos.

    Guerreiro, que também é diretor teatral, lamentou a decisão da Justiça e afirmou que esta "abre um precedente gravíssimo".

    "Estamos vivendo a volta da censura de uma forma completamente arbitrária, orquestrada. Estamos abrindo um precedente gravíssimo", disse.

    A organização da peça publicou uma nota numa rede social online informando sobre a decisão judicial.

    "Fomos censuradas novamente. Desta vez na Bahia. Tristes tempos de intolerância e ignorância. Censura não. Resistiremos e Lutaremos. Juntas somos mais fortes".

    A apresentação da peça já havia sido cancelada em setembro, quando seria encenada em Jundiaí (SP).

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