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    CRÍTICA

    Masp trata sexualidade como pornografia em mostra superficial

    FABIO CYPRIANO
    CRÍTICO DA FOLHA

    31/10/2017 02h00

    HISTÓRIAS DA SEXUALIDADE (regular)
    QUANDO de ter. a dom., das 10h às 18h; qui., das 10h às 20h; até 14/2/2017
    ONDE Masp, av. Paulista, 1578, tel. (11)3251-5644
    QUANTO R$ 30, grátis às terças
    CLASSIFICAÇÃO 18 anos

    *

    "Histórias da Sexualidade", a mostra que se tornou polêmica antes mesmo de sua abertura, por conta da proibição a visitação por menores de 18 anos, está muito distante do que se pode imaginar a partir da temática prometida pelo título.

    A exposição no Masp (Museu de Arte de São Paulo), dividida em oito segmentos, explora a sexualidade, uma área tão vibrante e cheia de contradições na humanidade, de forma classificatória e frígida. Com isso, o conteúdo, apesar de vibrante na individualidade de cada uma das obras, no conjunto se torna superficial.

    O primeiro segmento, por exemplo, Corpos Nus, reúne de obras-primas do museu, como "A Banhista e o Cão Griffon" (1870), de Renoir, junto a uma deslumbrante tela de Francis Bacon, "Estudo do Corpo Humano" (1949) e "David 10" (2005), de Miguel Ángel Rojas, entre as cerca de 30 selecionadas. Contudo, a repetitiva sucessão de nus aponta para uma quantidade excessiva que se assemelha a uma mirada cientificista.

    BRANCO E NEUTRO

    Ora, uma exposição sobre sexualidade merece um ambiente mais quente, mas a curadoria da mostra, tendo à frente o diretor artístico do Masp, Adriano Pedrosa, tende a ignorar o legado da arquiteta Lina Bo Bardi, tão fetichizado em sua gestão. As paredes brancas e neutras, que suportam as obras, apenas atestam a falta de ousadia ao tratar do tema.

    Nesse sentido, o conjunto que se sobressai é o denominado "Religiosidades", ao mesclar o sensual retrato de São Sebastião, realizado por Pietro Perugino, entre 1500 e 1510, do acervo do museu, com uma foto de Robert Mapplethorpe, uma pintura de Leonilson, desenhos de Leon Ferrari e o vídeo de Virgínia de Medeiros, "Sergio Simone", entre outros trabalhos.

    Aí, pode-se perceber como artistas ao longo dos séculos trataram de sexo e religião de forma complexa e crítica, o que também falta nos demais segmentos da mostra.

    APELO

    Finalmente, proibir uma exposição a menores de 18 anos e colar um selo no catálogo como o texto "Sexo explicito, violência, linguagem imprópria" é tratar a sexualidade como pornografia.

    Um museu de arte não deveria se acovardar a esse ponto, até porque está apenas sucumbindo a pressões de grupos desinformados e mal-intencionados.

    O que se vê no museu está longe de todo o sexo explícito disponível a qualquer um na internet. No atual contexto, "Histórias da Sexualidade" poderia ser um farol sobre o papel da arte e de suas instituições. Entretanto, nem a curadoria nem o Masp estão em condições de exercer o papel que lhes cabe.

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