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    CRÍTICA

    'Historietas Assombradas' tem sacadas estilosas e diverte a todos

    ANDREA ORMOND
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    02/11/2017 01h00

    HISTORIETAS ASSOMBRADAS (muito bom)
    DIREÇÃO: Victor-Hugo Borges
    ELENCO Charles Emmanuel, Nadia Carvalho, Iara Riça
    PRODUÇÃO Brasil, 2017, livre
    QUANDO estreia nesta quinta (2)
    Veja salas e horários de exibição

    *

    Adultos não costumam gostar de filmes infantis. Uma pena. Os filmes são portas para sentimentos ocultos. Exatamente por isso, "Historietas Assobradas - O Filme" deve ser visto com olhos de guri. Atentos às cores e aos mistérios da trama.

    Em 2005, o diretor Victor-Hugo Borges lançou o curta-metragem quase homônimo, com o subtítulo "para crianças malcriadas". O curta tornou-se série de televisão, que se tornou longa. É uma das várias animações brasileiras que chegam aos cinemas.

    O icônico "Meow!" (1981), de Marcos Magalhães, tinha estilo político. "O Menino e o Mundo", de Alê Abreu, esbanjou delicadeza e apareceu no Oscar de 2016. "Historietas" segue caminho próprio. Cômico e direcionado às crianças.

    No papel do protagonista, Pepe: um boneco com cara de curupira e dentes de vampiro —faz a linha do sincretismo cultural. A avó adotiva, Ramona, cozinha poções mágicas. Como acontece nos contos de fadas, Pepe foi deixado em uma cestinha pelos pais, que fugiam de um ser obscuro e assustador. A barra é pesada: orfandade, bebê abandonado, morte, perseguição.

    Aos 12, Pepe decide procurar os genitores e sai estrada afora, tal qual João e Maria. Existe literatura especializada sobre os contos de fadas e, acredite, as mensagens subliminares podem ser terríveis.

    Mas essa não é a intenção aqui. O roteiro é debochado. Coisas nojentas, como baratas e gosmas, dão o ar da graça. De leve, toques sérios. A menina Marilu fala de modo artificial (como uma consultora pedagógica), desprezada pelos pais, críticos de teatro.

    Surgem sacadas estilosas. O vilão é organista, como Dr. Phibes. O grandalhão zumbi parece ter saído do "Beetlejuice", de Tim Burton.

    A estética de videogame permeia o filme, dialogando obviamente com a internet e com o mundo digital. Os cortes são rápidos, há muita informação visual. Ou seja, tudo aquilo a que crianças (e os adultos) estão acostumadas.

    Resta saber se captarão as partes mais densas. A certa altura, gatos sádicos escravizam os pobres personagens. Em outra, uma falsa avó Ramona grita "eu te odeio". Ainda que os petizes não percebam todas as nuances, "Historietas" pode bater à porta e entrar. Carrega uma cesta apetitosa de doces e está longe de ser o lobo mau.

    Assista ao trailer de 'Historietas Assombradas'

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